Marina, morena, você se perdeu

Marina, morena, você se perdeu

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Marina, Marina

 

Não estou entre aqueles que acreditam em candidatos diabólicos. Nenhum dos presidenciáveis, salvo, talvez, Levy Fidélix, cujo bigode não me parece confiável, levaria o Brasil ao caos. Alguns pela simples razão de que jamais serão eleitos ou que, se eleitos, não saberiam o que fazer e ficariam paralisados. Outros, em todo caso, por serem pessoas razoáveis, ainda que desejem chegar à presidência da República. Marina não me assusta. É verdade que ela não anda se ajudando muito. Já dá para ouvir o refrão: “Marina, morena, você se perdeu...” Primeiro foi a história de autonomia do Banco Central, algo que, por ter o apoio de todos os banqueiros, torna-se imediatamente suspeito. Qualquer um sabe que banqueiros não são seres confiáveis, exceto, por falta de alternativa, para guardar o nosso dinheiro, ainda assim a um custo elevado. Tenho certeza de que já me surrupiaram centavos, mas não posso provar e tenho mais o que fazer.

Depois foi a história de relegar o pré-sal para segundo plano. Monteiro Lobato deve ter dado um salto no túmulo. Getúlio Vargas deve ter pensado em se matar novamente. Tanto luta para isso. Tem também a questão dos LGBT. Marina anda em ziguezague. A vida é assim. Agora que podemos entrar para o seleto clube dos grandes produtores de petróleo, Marina quer deixar nosso ouro negro dormindo em berço esplêndido? Ela já voltou atrás. Ufa! O que me assustou mesmo foi a declaração da candidata do PSB de que vai flexibilizar a legislação trabalhista para tirar 20 milhões de trabalhadores da informalidade. Aí o bicho pega. Só de pensar no assunto, começo a tremer. Não toquem nas minhas férias de 30 dias. Marina avisou que não mexerá em direitos adquiridos. Pode ser. Ainda assim cheguei a vê-la, numa alucinação ou pesadelo, com o bigode do Fidélix. Acordei banhado de suor. Tem vários problemas nessa proposta da candidata ecologista.

O primeiro ponto é que o Brasil, segundo o IBGE, não tem 20 milhões de trabalhadores na informalidade. No máximo, tem uns oito milhões. O principal é que não consigo ver como flexibilizar a legislação trabalhista sem “precarizar” a vida dos trabalhadores. Nesse ponto, sou clássico. Posso até sair de bandeira na mão pelas ruas em defesa do meu direito a 30 dias anuais de papo para o ar. Gosto de Marina. Sei que é uma mulher de fibra e aberta à diversidade. Tenho, porém, alguma dificuldade para compreender algumas das suas opções: como ser uma candidata de esquerda, saída do petismo decadente e desvirtuado, tendo como mentores os economistas do PSDB? Não quero ofender quem quer que seja. Preciso entender.

Digo e repito que Marina não me assusta. Pode fazer um bom governo. Só precisa decidir de que lado está. Por um lado, é vanguardista. Por outro, uma guardiã da retaguarda. Oscila entre um esquema tático com cinco volantes e outro com seis atacantes. O meu temor que isso leve o Brasil a tomar outros sete de alguma Alemanha desrespeitosa. Já sabemos que isso não mata, embora deixe sequelas. Marina precisa prometer que jamais adorará o bigode do Levy Fidélix. Se fizer isso, dispara nas pesquisas. É uma questão de bom senso.

 

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