Meias verdades brasileiras sobre a Venezuela

Meias verdades brasileiras sobre a Venezuela

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No México, vendo a CNN em Espanhol, acompanhei uma entrevista muito interesse do diretor de um jornal venezuelano de oposição a Maduro. Era sobre o problema do papel para os jornais da Venezuela.

A entrevistadora esforçava-se para que o entrevistado fosse implacável com o regime de Maduro.

"As dificuldades com papel prejudicam só os jornais de oposição, não é mesmo?", perguntou.

"Não", respondeu o entrevistado. "Atingem também os jornais governistas".

"Mas muito mais os oposicionistas", insistiu a jornalista.

"Claro", respondeu o entrevistador, "pois a maioria dos jornais faz oposição ao governo".

Enquanto isso, no Brasil, os lacerdinhas da direita Miami continuam dizendo que não há liberdade de expressão na Venezuela, que consideram uma ditadura, mas quem tentou golpe de Estado foram os "liberais", em 11 de abril de 2002, quando chegaram a sequestrar Hugo Chávez, tudo em nome da "liberdade" e da "democracia".

Capriles, o líder dos liberais, perde a cada eleição. Só precisa esperar a próxima. O problema é que a Venezuela tem petróleo. Os americanos não aceitam que uma fonte petrolífera importante não coma na mão deles.

A vida é assim. A Argentina aprovou uma lei de desconcentração dos meios de comunicação absolutamente liberal, copiada da legislação americana, mas os lacerdinhas, defensores do capitalismo primitivo, monopolista, vivem falando mal dessa revolução liberal argentina. O poder do Clarín seria considerado ilegal nos EUA.

Dito isso, um pouco de complexidade não faz mal a ninguém.

Maduro é fraco e tem tentações autoritárias, mas foi eleito.

O engraçado é que os mesmos que chamam de baderna as manifestações de estudantes no Brasil entusiasmam-se com as manifestações dos jovens venezuelanos. Eu fico com as duas. Desde que nenhuma seja financiada pelos EUA.

Nem por qualquer outro país. Ou por dinheiro de partido por baixo do pano.

Os lacerdinhas são esquisitos: atacam a desdentada ditadura cubana, mas jamais falam da Arábia Saudita. E, sempre que necessário, defendem a finada ditadura chilena, que sempre foi a menina dos olhos da direita Miami. Chegam a dizer que o regime repugnante de Pinochet era um caminho para a liberdade pela desregulamentação econômica.

Uau!

Tenho certeza de que podemos ter democracia, segurança e justiça social em regimes muito superiores ao da Venezuela. Mas a direita Miami não gastava uma linha com a Venezuela quando o país era um bordel corrupto jorrando petróleo para os ricos e deixando o resto da população atolado na mediocridade. Não faz muito isso. Foi no auge do neoliberalismo venezuelano. Nessa época, a Venezuela não era pauta para a direita Miami.

Essa Venezuela que está aí é ruim. A de antes era muito pior. A Venezuela sonhada pela direita Miami é um avanço para trás. Tudo o que se quer é acabar com o populismo para restaurar o saudável elitismo.

Dar aos pobres irresponsavelmente é demagogia. Dar aos ricos irresponsavelmente é muito sensato.

Essa história da Venezuela está cheirando à armação à moda antiga. Armação da CIA

Como em 1964 no Brasil.

Ao contrário do que cantava Nelson Ned, nada passa, tudo fica.

Tudo ficará. Até a direita Miami passar transformando lacerdinhas em fósseis.

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