Meus livros para a galera

Meus livros para a galera

Hoje, jovens entre 15 e 21 anos ganharão Acordei Negro

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Chegou o pacote de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. O ministro da economia quer reduzir isenções fiscais até sobre a cesta básica, o que significa, de forma dissimulada, aumentar impostos, cobrar mais dos pobres. Não há qualquer projeto para tributar lucros e dividendos transferidos de pessoas jurídicas para pessoas físicas. Ou seja, não está na pauta cobrar mais dos ricos. Maria Lúcia Fatorelli, especialista em dívida pública, contou no Esfera Pública, da Rádio Guaíba, que, quando Fernando Henrique Cardoso decidiu acabar com a tributação de lucros e dividendos, nem os favorecidos acreditavam. Mandavam funcionário perguntar-lhe se era verdade. Mesmo com a afirmativa, iam pessoalmente pedir confirmação. Viam-se diante de Papai Noel e duvidavam. Incrível.

      Se Paulo Guedes quer tirar dos menos aquinhoados, eu quero dar. Cada um dá o que tem. Eu só tenho livros. Darei o que possuo. Hoje, às 16 horas, farei um lançamento do meu livro “Acordei Negro” (Sulina/Figura de Linguagem) no Correio do Povo (entrada pela Andradas, junto ao estúdio Cristal). Todo jovem, negro ou branco, que comparecer, com a carteira de identidade, pegará o livro por minha conta. Pega, eu pago. Até acabarem os livros disponíveis. Como tenho 27 leitores, a maioria com mais de 80 anos, imagino que não gastarei muito. Mas estou disposto a meter a mão no bolso para cobrir até cem livros. Fico imaginando cem adolescentes saindo com meu romance. Seria a glória. Ficarei satisfeito com dez. Se for um só, não tem problema. Levará também o meu abraço e a minha amizade.

      Estou falando sério. Dizem que jovens não têm incentivo para ler. Darei o meu estímulo. Um amigo me avisa: “E muito arriscado. E se nenhum aparecer?” Pagarei mico. Nada que já não tenha me acontecido. Paulo Guedes não pretende taxar as grandes fortunas. Os liberais garantem que isso é ineficaz. Acham, no fundo, que desestimula o apetite de enriquecimento. Afirmam que isso só produz fuga para o exterior. A minha fortuna são meus livros. Doarei parte dela aos jovens que aparecerem em meu lançamento de hoje. Pode ser que meu capital seja moeda podre e não tenha adolescente para abraçá-lo. Correrei o risco. Liberais não fazem constantemente o elogio do risco? Não falam sempre na importância de correr riscos? Se o adolescente preferir um exemplar de “Ser feliz é tudo que se quer”, em lugar de “Acordei Negro”, também pode. Livre escolha em democracia.

      Quem é jovem? Para evitar polêmicas, quem tiver entre 15 e 21 anos. Sempre quis ser Robin Hood. Robin Hood tirava dos ricos e dava aos pobres. Darei aos jovens. Quem é o rico no caso? Eu mesmo, detentor do capital, quer dizer, dos livros, ou do dinheiro para comprar e doar certo número de exemplares. Jovem negro terá dupla homenagem: levará “Acordei Negro” e “Ser feliz é tudo que se quer”. É minha reverência aos construtores do Brasil no momento em que a lei Caó, nº 7.716, lei antirracismo, completa 30 anos. Ela diz: “Serão punidos os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".

     


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