Morrerei em Palomas

Morrerei em Palomas

Sobre o passado e o futuro

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Obsessão

 

Morrerei em Palomas

De onde nunca pude sair

Morrerei em Palomas

Mesmo que seja em Paris

De minhas fugas e ardis

Morrerei quando cair

Na tarde tristonha

O aguaceiro nos campos

Do veterano Machado

Onde se canta Vallejo

E se ouve o achado

De um violão insepulto

Ou o choro do bandonion

Soando como um indulto

Morrerei em Palomas

Ao cair de uma noite

Que nadie quiere cantar

E que não poderei olvidar

Morrerei como canto

Na varanda de casa

Casa verde do pampa.

*

Palomas

 

Não vou falar de rio,

Pois rio não havia,

Na minha infância,

Em Palomas, latia

Um cão para o trem.

 

O tempo dizia vem...

O resto era solidão.

Campos, uma estância,

Verde por horas a fio.

 

Palomas não era triste,

Nem sequer era triste.

 

A vida tomava sol,

Um pinheiro em riste

Mirava o céu em bemol.

 

Depois, ao cair da noite,

Ouvia-se o vento num açoite

Afundar navios de papel.

*

Criança, eu tinha pressa de espichar,

Com meus sapatos amarelos de pirilampo,

Era tudo tão lento para crescer,

Só minhas calças não sabiam disso,

Perdiam terreno para as canelas

Enquanto eu louvava a bola em vielas.

o tempo era um burro empacado

zurrando para a lua encarnada,

A lua que sangrava cheia de si.

Crescia um palmo, continuava menino,

Cada ano tinha dez mil dias e noites

Todos povoados por fantasmas de vermelho,

Palomas nunca passava.

Agora sou eu que passo.

 

 

 

 


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