Multa mais, vai

Multa mais, vai

Infratores fazem mimimi

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      Não existe mimimi maior no Brasil do que o vitimismo do infrator de trânsito. O cara comete a infração, mas não quer ser multado. Não há indústria da multa. Há, como alguém disse, indústria da infração. A única forma de educar é multando. O resto é lero-lero. Todos os dias, andando de ônibus, táxi, aplicativo ou a pé, eu vejo dezenas de infrações. A mais comum é dirigir falando ao celular. A figura comete a infração e xinga o agente que a multa. Qual é a porcentagem de erros na aplicação de multas no Brasil? O presidente Jair Bolsonaro, com seu projeto de alteração das regras e dos pontos da CNH, está favorecendo o infrator (ele e sua família são campeões nisso) e transformando os pontos fora da curva em regra.

      Quarenta pontos na carteira para gastar é estimular a impunidade. O motorista que comete infração e não quer ser multado pode ser a mesma pessoa que brada contra a leniência das leis penais no Brasil. Na Europa, só a Bulgária tem carteira de 39 pontos. Em alguns países, parte-se de um número e perde-se parte deles a cada infração. Em outros, parte-se de zero e fica-se a pé ao atingir certo patamar. Dá no mesmo. Na França, são 12. Na Alemanha, 18. Na Áustria e na Dinamarca, 3. No Reino Unido, 12. Há modalidades de recuperação de pontos e tempos diferentes para ficar sem carteira. O rigor é a lei. Em 2016, na França, 8.6 milhões de pontos foram retirados por excesso de velocidade. As multas são salgadas. Por 20km/h acima do permitido, a mordida é de 135 euros, em torno de R$ 634. Por um excesso superior a 50 km/h, a pegada sobe para 1.500 euros (3.750 euros em caso de reincidência) e perda de seis pontos na preciosa carteirinha.

      Eliminar a multa para o não uso da cadeirinha de criança, alegando que os pais sabem o melhor para os filhos, é irresponsabilidade pura. Acabar com o exame toxicológico beira à insanidade. Uma moda que podia pegar no Brasil é esta aplicada impiedosamente em lugares atrasados como Paris: 135 euros de multa para quem desrespeita a prioridade do pedestre. Se houvesse indústria da multa, era só ficar controlando as faixas de segurança, que praticamente ninguém respeita. O pessoal não sonha em viver na Europa? Portugal criou o sistema de pontos em 2016. São apenas 12.

Papo reto: o infrator de trânsito quer mole. Acha que a vida é dura e pede para ser aliviado depois que pisa na bola. O Brasil contribui para o rolo com estradas ruins, pedágios caros, limites de velocidade inadequados em certos casos e asfalto de má qualidade. Por outro lado, tem um país sendo desenhado: todo mundo armado na rua, controle de velocidade reduzido, normas flexibilizadas e salve-se quem puder. As campanhas de trânsito – se beber, não dirija – mostram que por aqui a influência positiva da mídia é zero. Só tem um jeito de reduzir danos: no tranco. O resto é mimimi, trololó e choradeira de marmanjos. Conversa de bar. Racionalização de almoço familiar de domingo. Multa mais, que melhora.

 

 

 

 


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