Nó tático e técnico de Argel em Roger

Nó tático e técnico de Argel em Roger

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Vivemos na era da cultura do sentimento. O emocional predomina sobre a frieza do racional. O comentarista deve falar como o torcedor. O repórter deve experimentar o que narra. O tempo da linguagem pomposa, dissimuladamente neutra, já se foi. É preciso dizer o que brota.

O tosco Argel deu um nó tático e técnico em Roger Guardiola.

Sim, Argel é visto como tosco, grosso, incapaz de ter concepções táticas. No máximo, um motivador. Sim, Roger é visto como altamente sofisticado, organizador, um estrategista.

Desde que chegou ao Inter, no entanto, Argel ganhou mais pontos do que Roger. No confronto direto de ontem, ganhou por 1 a 0, mas poderia ter sido 4. Os fãs de Roger, ou das próprias teses encarnadas pelo treinador, sustentam que os pontos do Inter saem da qualidade superior do grupo colorado, mesmo tendo perdido Nilmar  e Aranguiz e, no Gre-Nal, Valdívia e Sacha. Em suma, Roger seria tão bom que mesmo sem jogadores qualificados faz milagres.

No campo, neste domingo, Argel deu um banho tático e técnico. Adiantou a marcação e não deixou o Grêmio sair com bola no chão. Impôs intensidade e fez o adversário perder sua frieza organizacional. No único contra-ataque do primeiro tempo, Luan buscou a jogada individual, numa clara falta de disciplina estratégica e tática, deixando de servir dois companheiros.

Intensidade é fundamental na estratégia. Tática não é só escolha de esquema. Argel recuperou Vitinho, que vem jogando muito e matou o Gre-Nal. Argel colocou Arderson ao lado de D"Alessandro. Essa é a fórmula para fazer o ex-gremista jogar. Argel obteve algo genial: fez Rodrigo Dourado jogar muito como volante moderno e Nico Freitas jogar bem como volante antigo. Sei que tudo isso não pode ser visto por quem tem uma grade de interpretação pronta e intransponível. Futebol é complexo. Se Aguirre não tivesse desprezado o Brasileiro, poupando os titulares no primeiro semestre, certamente o destino do Inter no campeonato nacional seria outro. Com certeza estaria à frente do Grêmio, de quem está a apenas seis pontos.

A tragédia brasileira do Inter em 2015 tem um nome: Aguirre.

Tem uma ideologia: excesso de modernidade.

Tem culpa da direção: mania de achar que só se pode disputar uma competição de cada vez.

Os números de Argel em casa são impressionantes.

Os números de Argel fora são medíocres.

O Inter precisa deixar de ter dupla personalidade.

Precisa tentar ser o mesmo em casa e fora.

Se Gre-Nal não arruma a casa, expõe certas verdades.

Para quem está disposto a ver.

Roger fez um ótimo trabalho no Grêmio. Mas o resultado é o mesmo do considerado não técnico Renato Gaúcho: uma vaga na Libertadores. É bom. Mas é pouco para quem sonha mais alto.

Inter e Grêmio, para ganhar um Brasileiro, precisam parar com a obsessão pela Libertadores.

Ganhar título é bom em si. Não pela vaga para outra competição.

É como sexo. Não precisa ser para reprodução.

 

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