Números que falam de um tempo

Números que falam de um tempo

A pandemia continua

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    O mundo passou dos cinco milhões de mortos por Covid-19. No começo, um caso e a uma morte apavoravam. Hoje, no Brasil, dez mil casos por dia e trezentas mortes são vistos como um alívio. Relativistas filosofam: tudo é questão de perspectiva, revelam.
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    Na COP26, conferência do clima em Glasgow, os líderes mundiais dispostos a salvar a humanidade comprometeram-se e a retomar para valer o acordado em 2015, em Paris: limitar o aquecimento a 1,5 graus C. O Brasil anunciou a meta de reduzir, até 2030, em 50% das emissões de gazes de efeito estufa. Só falta combinar com os poluidores.  
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    Mais livros que eu compraria na Feira de Porto Alegre se já não os tivesse lido tantas vezes a ponto de parecerem destroços: “Conversa na catedral” e “A festa do bode”, ambos do peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel da literatura. São dois dos melhores romances que conheço sobre autoritarismo, golpes, política, censura e jornalismo na América Latina que não se livra dos ciclos populistas e ditatoriais. O escritor liberal mostra-se nele acima de todos os dogmas. Títulos velhos? Os tempos que correm exigem leituras sólidas e impiedosas.
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    O AI-5, ato institucional que transformou a ditadura de 1964 em ditadura de 1968, completará 53 anos em 13 de dezembro. Delfim Neto, todo-poderoso ministro do regime militar, perdeu a ocasião de continuar em silêncio outro dia: "Eu voltaria a assinar o AI-5. Eu tenho dito isso sempre. Aquilo era um processo revolucionário, vocês têm que ler jornais daquele momento. As pessoas não conhecem história, ficam julgando o passado, como se fosse o presente. Naquele instante foi correto, só que você não conhece o futuro”. Pelo jeito, o conhecimento do futuro não o ajudou a compreender o tamanho do erro.
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Edgar Morin (“O Método 6 – a ética”): “A maior ilusão ética é crer que se obedece à mais alta exigência ética quando, na verdade, se está agindo pelo mal e pela mentira. Como escreveu Théo Klein, ‘a ética não é um relógio suíço cujo movimento nunca se desajusta. É uma criação permanente, um equilíbrio sempre prestes a ser rompido, um tremor que nos convida a todo instante à inquietude do questionamento e à busca da boa resposta’. A indignação sem reflexão nem racionalidade conduz à desqualificação do outro. Impregnada de moral, a indignação não passa, com frequência, de uma máscara de cólera imoral”. Moral da citação: antes de apontar o dedo, olhe para ele.
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Diferenças e semelhanças, ou diga-me como te vestes: Federação Internacional muda regra e permite o uso de shorts por mulheres no handebol. Biquíni não será mais obrigatório. No Afeganistão e alhures mulheres também sonham com o dia em que short será permitido.
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Hoje, na Feira do Livro, tem sessão de autógrafos de Evilázio Teixeira, “Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos adolescentes” (Edipucrs), às 14h30, e de Gilberto Schwartsmann, “Divina Rima” e “Gabinete de Curiosidades” (Sulina), às 17h30.

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Morreu Flávio Porcello, jornalista e professor, de Covid-19. Havia tomado as duas doses da vina. Tinha comorbidades. Partiu um cara competente e do bem. A pandemia ainda está assim, ceifando vida.

 

 


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