Nem amarelo nem vermelho. Contra a corrupção

O Brasil continua na sua polarização. Neste domingo, aqueles que um dia vestiram camisetas amarelas para derrubar Dilma não foram às ruas pedir a saída de Temer. Por que não?

1. Porque para muitos a corrupção nunca passou de um pretexto. Só queriam tirar o PT do poder.


2. Porque muitos devem estar envergonhados de ter ajudado a colocar Michel Temer e seu bando no poder contra todos os avisos de que se tratava de golpe ou de conspiração de gente com folha corrida capaz de transformar em principiante muito morador do presídio Central. Muita gente foi ingênua ou manipulada pela mídia. A revista Veja transformou Aécio em bom mocinho mesmo sabendo que isso não passava de uma péssima ficção. Outros, porém, sabiam, mas não se importavam. A Lava Jato era boa para liquidar a "quadrilha petista". Reflexo de classe.


3. Porque muitos devem estar constrangidos de ter votado em Aécio Neves, ignorando todas as denúncias sobre seu passado, e o apontado como exemplo de honestidade e de modernidade.


4. Porque a hipocrisia impera e coordena os atos de muitos dos moralistas de conveniência. O petismo, cheio de erros e crimes, foi mais odiado por seus poucos acertos: uma tentativa tímida de criar um Estado de Bem Estar Social neste Brasil de capitalismo do século XIX.


5.  Porque a direita também tem seus corruptos de estimação.


6. Porque se der para implantar as reformas trabalhista e previdenciária com Temer, ele pode ficar, apesar da gravação de Joesley e dos robustos elementos contra ele e seus parceiros de butim.


7. Porque caiu a ficha: a esquerda não inventou a corrupção no Brasil como a direita tentou emplacar como narrativa. A esquerda passou a fazer parte do clube criado pela direita.

Mas o Brasil também não encheu as ruas de manifestantes de vermelho neste domingo. Por que não?

1. Porque a maioria da população não se reconhece nas bandeiras da CUT e do MST. Assim como outra parte não se vê como militante do MBL ou do Vem pra Rua.


2. Porque boa parte da população não suporta essa obsessão das esquerdas de reduzir tudo aos seus símbolos, cores e interesses. Há quem queira se manifestar contra a corrupção, mas não em defesa de organismos em relação aos quais não se é obrigado a nutrir qualquer simpatia. Não estamos na União Soviética. Mesmo quando o PT governa, ou governou, o Estado não é seu.


3. Porque enquanto não se conseguir criar manifestações multicoloridas – nem só de vermelho nem só de amarelo – as ruas não expressarão realmente a diversidade da população.


4. Amarelo = direita. Vermelho = esquerda.


5. Brasil = todas as cores.