Ninguém quer ser vice?

Ninguém quer ser vice?

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      Vice no Brasil nunca é decorativo. Quando menos se espera, sai da moldura e dá o salto. Alguns até diriam o golpe. Como enfeite, vice assusta. É expressivo o número de vices brasileiros que se deu bem quando menos esperava ou nem esperava. Estava só ocupando lugar. Outros – ou outro – foram à luta em causa própria. Paradoxalmente está difícil encontrar vice para Lula, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva e Jair Bolsonaro. Como assim? Ninguém quer ser vice dos favoritos? Um desses nomes deverá ser presidente da República. Os homens sonham com mulheres de vice. Será o vício do machismo? Candidatos do Sudeste pensam em vices nordestinos e vice-versa. Como versa! Em prosa e verso. A vice de muitos sonhos é Manuela D’Ávila.

Manuela segue carreira solo. É candidata à presidência da República pelo PCdoB. Foi confirmada em convenção. Só lhe falta um vice. Mesmo assim o PDT de Ciro Gomes, ou Ciro Gomes do PDT, ainda sonha com ela para sua vice. Lula, na solidão do cárcere curitibano, parece que também não descarta a possibilidade de tê-la como companheira ideal de chapa. Poderia ser a mais rápida ascensão de um vice. Antes mesmo da eleição, caso a justiça eleitoral bloqueie Lula, como é muito provável, o vice, ou a vice, trocaria de cadeira. Vices podem vicejar, mas andam escassos. Eduardo Jorge, do Partido Verde, aceita ser vice de Marina. Só precisa que o PV amadureça a ideia.

Bolsonaro aguarda o sim de Janaína Paschoal. Se não for com ela, descrita durante o processo do impeachment de Dilma Rousseff como “sargentona”, poderá ir com o general Mourão. A questão é de patente. Ontem, aventou-se a possibilidade de uma vereadora de Porto Alegre, conhecida como Comandante Nádia, ser vice na chapa de Henrique Meirelles. Uma ascensão meteórica. De primeiro mandato na vereança para a vice-presidência da República sem escala. Um cenário ideal não fosse o 1% de Meirelles na pesquisa de opinião. Sondada, a vereadora recusou. Ficou ótimo para ela. Nunca é demais ser cogitada para voar.

O tucano Alckmin já sondou meio mundo. Ainda não emplacou. A senadora gaúcha Ana Amélia Lemos declinou do convite. Não quis trocar um Senado quase na mão por um Jaburu voando ainda que no horizonte. Aposta alta. Há quem jure que Alckmin vai disparar na cotação política quando começar o horário eleitoral em rádio e televisão. Tempo não lhe faltará em função de um condomínio de partidos na sua coligação. O ex-governador paulista não tem despertado a atenção do eleitorado. Em contrapartida, não sai do radar do mercado e dos caciques partidários.

Tem vaga de vice sobrando. Já ando esperando uma ligação. De repente, sobra para mim. Não faço questão. Estou ocupado. Sou, porém, educado e não recurso antes de ver as propostas. Brincadeira à parte, procura-se um vice ou uma vice que seja paciente, traga votos, não incomode, não conspire e não se queixe, se for o caso, de parecer decorativo. Currículos devem ser enviados com urgência. Estamos recrutando. Até 15 de agosto. Exigências: visibilidade e discrição.

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