Nobel não consegue falar com Bob Dylan
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Mas não sou ingênuo. Sei que tem um pouco de marketing na jogada.
Esta notícia ajuda a entender um pouco mais a escolha de Bob Dylan para Nobel da literatura: ""A Academia entrou em contato com o agente de Dylan e também com o diretor de sua turnê". afirmou à AFP o chanceler da instituição, Odd Zschiedrich. A Academia não conseguiu um contato direto com o premiado". Uau!
Dylan é maior do que Nobel.
Ao premiá-lo, a Academia Sueca se elevou.
Normalmente é o Nobel que eleva o premiado.
Se o premiado fosse um queniano ou um japonês, como se especulou, a repercussão seria menor.
O Nobel também tem o seu limite e precisa que se fale dele.
Isso me faz pensar, com todo o respeito, numa situação caseira: o dia em que Passo Fundo premiou Chico Buarque.
O ídolo brasileiro aceitou e veio receber o prêmio.
O evento elevou-se. Foi possível chegar perto do premiado e pedir-lhe um autógrafo.
O mesmo acontecerá com Bob Dylan quando ele aceitar falar com a Academia Sueca.
Ontem, ele fez um show nos Estados Unidos e não abriu a boca para tocar no assunto.
Deuses não se rebaixam a vibrar com um reles Nobel diante de um público que pagou para ouvir música.
O Nobel obteve o que buscava: nunca se falou tanto dele.
Até Bob Dylan terá de fazer algum comentário.
Quem sabe, como Jean-Paul Sartre, para recusá-lo.
Poderia, por exemplo, sugerir que fosse dado a um escritor "de verdade".
Falando assim, parece que não aprovei a escolha.
Aprovei. Dylan é muito melhor do que um Roth.
Faz tempo que a grande literatura saiu dos livros.
Literatura é manipulação de palavras.
O livro é apenas um suporte historicamente datado.
Quando será que o Nobel conseguirá contato com Dylan?
E com João Gilberto, que poderia ser o próximo, antes ou depois do Chico Buarque.
E do Paulo Coelho. Ou o gosto da maioria nunca será premiado?