Notícias da ditadura

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 O pesquisador gaúcho Álvaro Larangeira, professor da Universidade Tuiuti do Paraná, já havia localizado documento sobre ações terroristas da extrema-direita para preparar clima favorável ao que seria o AI-5.

Ele descobriu também material interessante sobre uma acusação de assédio sexual de uma camareira contra Jânio Quadros quando este confinado em Corumbá. O velho esquisito podia ser mais do que bizarro. Essas descobertas estarão no livro “1968, de maio a dezembro” (Sulina), a ser lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, que organizamos juntos, com a participação também de Christina Musse, da Universidade Federal de Juiz de Fora, e textos de mestrandos e doutorandos de nossas três instituições de pesquisa.

Nos últimos dias, a imprensa foi inundada com novas informações sobre a ditadura brasileira implantada em 1964. Ficou, mais uma vez, provado que a direita praticou atentados terroristas antes de movimentações da esquerda de 1968. Um relatório do Serviço Nacional de Informações (SNI), de agosto de 1969, revela que o regime sabia de atentados a bomba cometidos desde o começo de 1968 por um grupo de extremistas de direita ligados à Força Pública, a polícia militar de São Paulo. O líder dos terroristas de direita era o fanático messiânico Aladino Félix. Ele tinha cobertura do general Paulo Trajano da Silva, amigo do ditador Costa e Silva, a ponte com Brasília.

Arquivos do Superior Tribunal Militar estão soltando milhares de papéis que detonam as narrativas ficcionais dos defensores da ditadura. Os terroristas de direita entraram em ação, furtando armas, no final de 1967 e explodiram alvos até agosto de 1968. Atacaram o quartel do 2º Exército, o prédio do DOPS, o quartel da Força Pública e a sede da Bolsa de Valores de São Paulo. Tudo para incriminar a esquerda. Aladino Félix declarou que agia para favorecer o endurecimento da ditadura e que recebia ordens da Casa Militar comandada pelo general Jayme Portella. Num informe manuscrito que entregou a polícia, Félix escreveu: "Brasília queria que nossas ações continuassem até dezembro de 1968 ou janeiro de 1969”. Simples assim.

Aladino Félix, também conhecido como Sábado Dinotos, esclareceu: "o terrorismo foi então como uma saída de emergência para o governo federal, pois não podia agir contra tantos implicados na trama e nem lhes convinha dar-lhes a liberdade para reassumir as rédeas que lhes foram arrancadas pela revolução de março de 1964”. Era um tempo de loucos, conspiradores e fanáticos. Os chefes engalanados podiam dormir tranquilos. Quando necessários, os executores dos seus crimes eram abandonados e torturados. Não havia teoria do domínio do fato.

Outro documento liberado recentemente, só que nos Estados Unidos, o relatório Polity IV, classificação da “ONG Center for Systemic Peace”, produzido pela “Political Instability Task Force”, criada pela CIA, a agência de espionagem norte-americana, classificou a ditadura brasileira pós-1968 de mais repressiva que a ditadura comunista da União Soviética. Uma façanha. Ah, esses arquivos. Quando não são queimados ou escondidos, acabam por desmontar as mentiras mais repetidas. Narrativas desabam como democracias.

 

 

 

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