O anel de Cabral

O anel de Cabral

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 A primeira farsa de um Cabral teria sido a descoberta do Brasil. Outros teriam chegado antes dele. Além disso, a descoberta não poderia ser chamada nem sequer de ocupação. Foi uma invasão de propriedade produtiva. Quase cinco séculos depois, outro Cabral, Bernardo, viveria um tórrido romance, ao som de um bolero brega, com a ministra que bloqueou a poupança de milhões de pessoas. Bernardo, a exemplo de Pedro, conquistou o território e foi embora. Teria abandonado, depois do amor, a moça sonhadora num hotel de Paris.

Teria dito que ia dar uma volta e tomou uma nave para o Novo Mundo.

O Cabral da vez é o Sérgio. Foi governador do Rio de Janeiro. É aquele mesmo que usava o helicóptero oficial para levar sua cadela à casa de praia em Mangaratiba aos sábados e domingos. Num passeio ao Velho Mundo, perdido de amor, Cabral convidou o empresário Fernando Cavendish para uma caminhada.

Na joalheria Van Cleef & Arpels, uma das mais famosas e caras do mundo, em Mônaco, Cabral apresentou um magnífico anel de R$ 800 mil ao amigo. Teria perguntado com emoção:

– Será que ela vai gostar?

– Claro que sim. Que mulher não gostaria desse anel?

– Vamos levar então.

– Vamos?

– Eu levo. Você paga.

Se não foi assim, não ficou longe disso. O dono da empreiteira Delta pagou com cartão. Precisa ter bala na agulha para carregar no bolso um cartão que segura um anelzinho de quase um milhão de reais. Sergio Cabral fez bonito com o cartão alheio. Cavendish devia-lhe muitos bons negócios feitos com o Estado do Rio de Janeiro. Fico imaginando a cena da entrega do mimo à amada por um derretido Cabral.

– Para minha princesa.

– Amor, que loucura, não precisava.

– Mas deve ter custado uma fortuna, querido.

– Não custou nada. A sua alegria não tem preço.

No jantar, a moça exibia o anel, que brilhava como um meteoro. Cabral sorria com se tivesse descoberto o Brasil. Fernando Cavendish, na hora de pegar a gorda conta, poderia ter cometido um ato falho.

– Pago esta propina também?

– Propina?

– Mil desculpas, gorjeta.

Sérgio Cabral é do PMDB. Bernardo também foi. Depois, andou pelo PP e pelo PFL, que virou DEM, tendo sido ARENA. Será que Pedro Alvarez também foi do PMDB? Ele abriu a porta dos mares para que nossas pedras preciosas fossem levadas para a Europa. Bernardo recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. O motivo se perdeu no oceano. Sérgio, pelo jeito, quis trazer de volta uma pedrinha preciosa. Cavendish pagou o pato (magret de canard) e o anel. Fica uma lição: se tem Cabral na parada, melhor desconfiar.

É claro que toda piada tem exceção. Afinal, os cabrais são muitos.

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