O avestruz e as fake news

O avestruz e as fake news

PT apoiar candidato de Bolsonaro é dose para avestruz?

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 Ninguém está a salvo de uma fake news. Mas os avestruzes sofrem com elas há muito tempo. Diz-se que podem engolir qualquer coisa. De um político elástico fala-se em estômago de avestruz. Outra lenda espalha que avestruz, diante do perigo, esconde a cabeça na areia. A ciência nega. Em tempos de cloroquina, porém, a ciência sofre descrédito. O presidente da República jura que não vai tomar vacina contra o coronavírus e pronto. Duvido que um avestruz pense assim. A defesa de gente do Partido dos Trabalhadores em dar apoio ao candidato de Jair Bolsonaro à presidência da Câmara dos Deputados é tão indigesta para a esquerda mais altiva que me fez pensar nos pobres avestruzes. Um dos tais defensores é o “famoso” Washington Quaquá.

      Não creio que um avestruz tenha estômago para votar em Arthur Lira, líder do Centrão e acusado de poucas e boas. Quaquá, que foi prefeito de Maricá e é presidente do PT do Rio de Janeiro, fundamentou a sua posição: “Não tenho nenhum problema com o Lira, pelo contrário. Para falar a verdade, acho que ele pode ter mais condições de avançar na pauta democrática”. A pauta democrática passaria pelo extermínio da Lava Jato. Ouvi, em privado, de importantes figuras petistas que tal “pataquada” deveria levar à expulsão de quem a pratica. Acima do Mampituba, no entanto, o pensamento petista costuma ser diferente.

      Política no Rio de Janeiro não cabe em estômago de avestruz. Dia desses, falei para um carioca: “Mas o Eduardo Paes é acusado de corrupção...” Ele respondeu sem a menor cerimônia: “Qual o problema? O Rio tem uma longa tradição de corrupção. O Paes fez uma boa administração”. Então, tá. Foi o que encontrei para dizer. Os petistas adeptos de Lira pretendem mudar a Lei da Ficha Limpa. Depois não querem que se fale mal de político e que a imagem dos políticos seja maculada por cocô tamanho avestruz. Recentemente Lira foi absolvido da acusação de rachadinha na Assembleia Legislativa de Alagoas. Demonstrou-se sua inocência? Não. Um juiz anulou as provas.

Avestruz engoliria isto? Vejamos: “Arthur Lira já foi condenado em um processo cível também por desvio de recursos na ALE-AL, mas recorre da sentença. O Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) determinou em outubro o envio deste processo cível para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o processo ainda não foi enviado, segundo o TJ-AL, porque o procedimento envolve conversão de arquivos e o processo tem muitos arquivos”. Basta pedir ajuda a algum hacker. A esquerda insinua que deseja reconstruir a sua imagem. Não fará isso apoiando Arthur Lira para presidente da Câmara dos Deputados.

Política, sustentam teóricos de estômago resiliente, é a arte de engolir sapos. No caso, mais parece degustação de rãs. Sob a aparência de nojo, o prazer pode ser enorme. Será por esse tipo de postura que o petismo tomou um laço histórico na eleição à prefeitura de São Paulo neste ano? Existe um tipo de eleitor que preza algo inacreditável: a coerência. Outros escondem a cabeça na areia e mostram os fundilhos.


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