O belo futebol do Grêmio

O belo futebol do Grêmio

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Foi uma linda vitória do Grêmio contra o Galo.

Linda por várias razões.

O futebol pode ser uma metáfora da complexidade da vida. O jogo de ontem uniu tudo o que se traduz como emoção: tática, técnica, coletividade, individualidade, imprevisto, acaso, ousadia, risco, planejamento e aposta.

Quando o Grêmio jogou contra o Palmeiras, em São Paulo, esteve praticamente eliminado. Os paulistas ganhavam por 1 a 0 e o jogo se arrastava para um final modorrento. Aí o imprevisto entrou em campo: o argentino Allione fez uma falta violenta absurda e foi expulso. O Grêmio empatou e saiu classificado. Eis a força da vida.

Em outros momentos, como quando do jogo com o Atlético-PR, ocasião em que o goleiro resolveu bater um pênalti e errou, o Grêmio foi bafejado pelo imprevisto. Mas ontem, no Mineirão, o Grêmio foi conduzido pela competência.

Ganhou o melhor coletivo? Certamente. Mas pensar só isso é pecar por reducionismo.

Ganhou também a individualidade genial de Pedro Rocha. Quem poderia ter planejado seus gols? Quem os previu? Queriam Éverton no lugar dele. Quem poderia imaginar dois gols de Pedro Rocha e sua expulsão?

Renato Portaluppi mostrou que é grande treinador ao ousar na troca de Douglas por Éverton. Quase todo mundo teria colocado um volante. O professor Portaluppi antecipou o contra-ataque que viria e matou o jogo.

Antes, em entrevista ao Uol, havia massacrado certos mitos atuais como a necessidade de ir aprender na Europa. Ironizou técnicos que passam dez dias por lá e voltam com fotos ao lado de jogadores famosos. Provocou os admiradores de Guardiola e Mourinho dizendo que queria vê-los ter sucesso no Brasil treinando o que se tem à mão, não seleções do mundo. Um personagem. Um treinador maduro. Um maluco beleza. Um provocador.

Renato é, ao mesmo tempo, moderno e antigo.

O futebol parece revelar um traço (natural ou cultural?) do ser humano: essa vontade de pertencer a um grupo e se opor a outro, esse desejo do "nós" contra "eles", esse alegria tribal, esse gozo na vitória própria e na derrota do outro.

O Grêmio massacrou o Atlético mineiro com a assinatura do professor Portaluppi.

Com meus 46 anos acompanhando futebol, desde os oito anos quando me deslumbrei com o Brasil de 1970, 30 dos quais atuando na imprensa esportiva, desde quando era setorista da Zero Hora no Grêmio até minha participação nos programas  da Rádio Guaíba a partir de 2004, vi muitos jogos emocionantes. Mas o de ontem foi particularmente interessante. Uma aula de tudo, do plano ao imprevisto, do possível ao impossível.

A taça está na mão do Grêmio. Como o imprevisto provou que joga, tudo pode acontecer.

Já aconteceu muito.

Os bobinhos dirão: "Futebol é para quem entende". No Brasil a maioria entende. Nada mais simplista do que achar que o outro não entende de futebol, algo tão simples e complexo, só por ter outra leitura do jogo. Há pouco, especialistas garantiam que o professor Portaluppi não era técnico de futebol. Apenas um amador.

Renato é um baita técnico. Seguindo assim, vai treinar o Brasil. Ou vai trabalhar na Europa.

Salvo se preferir continuar desfrutando das areias do Rio de Janeiro onde concebe suas estratégias e táticas.

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