O capitalismo do século XXI

O capitalismo do século XXI

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A coisa mais boba que alguém pode dizer é: não faça críticas, apresente soluções.

Trata-se do ressentimento contra a crítica certeira.

Papel de crítico é criticar. O resto é conversa fiada.

Tem conversa fiada de racista, de homofóbico, de esquerdista e de capitalista.

Exemplo de conversa fiada é aquela do cara que diz "vai precisar cota para heterossexual, branco e homem no mundo de hoje". É o lamento do machista branco e homofóbico contra as críticas que enfrenta.

É assim. Assim vai.

Continua a farra. Cada vez mais, menos é mais. Ou menos tem mais. O economista francês Thomas Piketty sacudiu a roseira ao provar com números que o capitalismo não vem distribuindo riqueza, como conta a mitologia liberal para enganar inocentes, mas concentrando-a cada vez mais. Até a minha avó, em Palomas, percebia isso, mas não tinha tempo de formar um bom banco de dados para sustentar a sua tese. Ela via o estancieiro local ficar mais rico a cada ano e os 300 habitantes do lugar ficarem sempre mais pobres. Tirava uma conclusão baseada na sua sabedoria empírica: “Dinheiro chama dinheiro”. Não foi desmentida. O estancieiro foi viver de rendas.

Depois de Piketty, a Oxfam praticou um ato terrorista: anunciou que até 2016 a riqueza do mundo estará dividida fraternalmente assim: 1% mais rico com mais de 50% de tudo e 99% mais pobres com o restante. É o que se pode chamar de uma divisão justa, clara e incontestável. Alguns, mais atilados, usam o termo meritocracia para explicar essa partilha aparentemente desequilibrada da riqueza mundial. Segundo a Oxfam, os mais aquinhoados lambuzavam-se com 44% do bolo global em 2009. Em 2014, já dispunham de 49% de tudo que produzem com modesta ajuda dos 99% restantes da população. Claro que essa divisão ligeiramente enviesada nada tem a ver com os males, ressentimentos, guerras, insatisfações e ódios deste mundo. É tudo coincidência. Basta deixar a mão invisível do capitalismo continuar agindo que um dia os 99% citados entregarão tudo o que ainda têm.

O que é essa tal de Oxfam? É a Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de Oxford de Combate à Fome). Com um nome desses, não pode ser confiável. Deve ser coisa de comunistas. Esquerdistas nunca param de falar nessa história de combate à fome. Não mudam o disco. Na parte inferior da tabela, essa dos 99%, 20% ficam com 94,5% do que lhes cabe enquanto os outros 80% regalam-se com os 5,5% restantes. Não é lindo? Não é justo? Não é assim que se constrói um mundo seguro, feliz e, acima de tudo, capaz de vencer os piores conflitos?

A solução, então, é o comunismo? O negócio é virar Cuba ou Coreia do Norte? Essas respostas ou provocações são geniais. Revelam muito do capital intelectual de quem as pronuncia. Certamente são pessoas que intelectualmente compartilham algo equivalente ao que sobra em termos econômicos para o setor menos favorecido dos 99% que atrapalham o crescimento do 1% em ascensão graças aos seus méritos como especuladores. Não fossem as intervenções estatais absurdas, o 1% dominante não teria de esperar até o longínquo ano de 2016 para deter a maior parte da riqueza universal. Barack Obama tem atrasado esse avanço com suas políticos assistencialistas anacrônicas de previdência social e de saúde. Nem vamos falar das suas tentações comunistas quanto à taxação de grandes fortunas e heranças. Como dizem os liberais, isso pune quem tem boas ideias e produz mais.

Uau!

A Oxfam produziu o seu relatório para influenciar o 1% do 1% mais rico que vai a Davos tomar champagne e criticar a desigualdade promovida pelas políticas estatais que recusam a austeridade. Só cortando gastos sociais e produzindo desemprego é que se cresce. O Brasil, com Joaquim Lévy, deve estar no bom caminho.

A propósito, Piketty pulverizou a tentativa do Financial Times de contestar a validade dos seus dados estatísticos: "?Les données qu"on a sur les patrimoines sont imparfaites mais d"autres comme les déclarations de succession sont plus fiables. Je fais cela en toute transparence, je mets tout en ligne? (...) ?Là où le Financial Times est malhonnête, c"est qu"il laisse entendre que cela change des choses aux conclusions alors que cela ne change rien".

Pobres lacerdinhas, tentam de tudo. Perdem sempre.

*

Frase de João, o coerente mais coerente que o coerente: o idiota é um gênio cuja genialidade só é conhecida por ele mesmo, o que o obriga  a espalhá-la em comentários que só revelam a parte idiota do seu gênio.

Como até o mais burro tem alguma inteligência, o gênio burro dirá: está falando de ti?

E assim sucessivamente.

A burrice é genial. Parabéns.

 

 

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