O caso Xuxa e o marketing da desgraça

O caso Xuxa e o marketing da desgraça

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Xuxa abriu o coração no último domingo.

Contou que foi abusada sexualmente quando menina.

Só se fala disso.

Os especialistas garantem que a atitude dela ajudará no combate a esse tipo de crime.

Foi um dramalhão terrível.

De quebra, Xuxa alavancou a audiência do Fantástico, cada vez menos fantástica, e voltou ao palco.

A eterna chatinha andava em baixa.

A sua confissão não veio de nada. Foi calculada, estudada, planejada como uma boa estratégia de marketing.

Gilles Lipovetsky, em Metamorfoses da cultura liberal, sustenta que a intenção tem busca importância diante do resultado.

Pode ser.

A mídia deitou e rolou. Xuxa deu aos jornalistas a oportunidade de usar todos os clichês que mais adoram, da atitude corajosa ao abriu o coração usado por mim acima. Um carnaval de sentimentos, lágrimas, traumas e audiência.

Pensar que foi só marketing pode ser criticado como um olhar mesquinho.

Achar que foi só um surto de consciência remete certamente a um oceano de ingenuidade.

A lei maior do marketing é: quando nada mais surtir efeito, recorra a um drama pessoal.

Nada mais contudente do que uma celebridade, uma gata borralheira transformada em princesa, que revela os traumas mais íntimos, tristes, sórdidos, capazes de produzir identificação com qualquer um, qualquer mortal.

Em pensava que Xuxa havia crescido em Santa Rosa.

Fiquei sabendo que, como Ronaldo Fenômeno, viveu mesmo foi no subúrbio carioca, em Bento Ribeiro.

De repente, Xuxa enfatizou seu lado classe C.

Será que até o abuso sexual depende agora do departamento de marketing para vir à luz.

Dilemas do mundo hipermoderno.

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