O eleitor é cínico?

O eleitor é cínico?

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Filosofia política

 

      Acredito na inteligência das pessoas. Sei que elas se posicionam a partir de percepções sentidas da realidade. Cada um usa o seu GPS mental para se localizar. Tudo o que eu escrevo é simples e direto. Busco compreender a maneira de agir das pessoas. Falo do que nos toca no cotidiano. Expresso minhas surpresas. Jamais dou conselhos. Não acredito em formadores de opinião. Meu trabalho é auscultar o mundo. Por que Lula lidera as pesquisas mesmo condenado e preso? Por que Dilma poderá se eleger senadora por Minas Gerais apesar do impeachment que sofreu e dos comentários recorrentes sobre a sua incompetência?

Por que Aécio Neves, mesmo não podendo disputar a reeleição para senador, poderá ser o deputado federal mais votado pelos mineiros? Por que Jair Bolsonaro lidera as pesquisas sem Lula apesar de ser rotulado de machista, homofóbico, racista, autoritário e simplista? Muitas são as hipóteses – possíveis respostas – para essas perguntas. As mais brutais podem ser enunciadas assim de acordo com a ideologia de cada um. O antipetista dirá: o povo foi comprado pelas políticas assistencialistas de Lula e Dilma. O petista preferirá: o povo reconhece quem fez o seu bem. Ou: Lula foi o melhor presidente da história do Brasil para os mais necessitados. O que dizer sobre Aécio Neves, atolado em denúncia de corrupção com fartura de provas?

Haverá tucanos para sustentar que ele foi um grande governador de Minas Gerais. Não faltarão antitucanos para garantir que ele tem um curral e que currais têm um custo e um resultado a colher. Pessoas que se veem como independentes arriscarão respostas mais cruas: o povo é burro. E as elites? São interesseiras. Em todas essas situações, um aspecto ganha evidência: a corrupção fica de lado. Estupidez ou sabedoria popular? Será que o chamado povo pensa sem ilusões: “São todos corruptos mesmo então o melhor é escolher quem nos proporciona alguma coisa?” O cinismo e o pragmatismo é que comandam o voto?

O eleitor médio é adepto do “rouba, mas faz”? Ou pergunta: “rouba, mas faz para quem?” O brasileiro não sabe votar? Ou, em todos os níveis da pirâmide, adapta-se ao sistema e vota conforme os seus interesses mais imediatos, uns pelo bolsa-família, outros contra o comunismo, outros ainda por menos impostos para os mais ricos? Eu me pego cheio de questionamentos: quem é o eleitor? Como ele escolhe? O que espera do futuro? Como faz a triagem das informações? Vota com a razão, com o bolso ou com a emoção? Um analista cínico diria que a plebe vota com o bolso, a classe média, guardiã dos valores, com a carteira, e a elite, sempre de olhos nos investimentos, com a bolsa.

A moral não passa de um discurso de campanha? A corrupção é sempre dos outros? Dar uma enganadinha na Receita Federal, por exemplo, é corrupção ou autodefesa? Imoralidade absoluta ou só uma mentirinha para se aliviar da fome do Leão? Se Aécio Neves sair consagrado das urnas o que dirão os especialistas? A filosofia política do brasileiro é única ou só um capítulo da infâmia universal?

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