O gatekeeper de Bolsonaro

O gatekeeper de Bolsonaro

Arthur Lira é o porteiro do impeachment

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      As denúncias avolumam-se. O “mar de lama” não para de crescer. Fala-se em corrupção. Quando o general Eduardo Pazuello, o rei da logística, foi defenestrado do Ministério da Saúde, houve ruído. Ele caiu falando que muita gente pedia pixuleco. Agora, batem nas portas do governo os irmãos Miranda – um funcionário concursado e um deputado bolsonarista – denunciando um esquema na compra da vacina indiana Covaxin; e um vendedor de vacinas assegurando que Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério da Saúde, pediu pixuleco para comprar doses da Astrazeneca. Dias já teve a cabeça cortada. A compra da Covaxin foi suspensa. Uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro, por prevaricação, foi entregue à Procuradoria-Geral da República, que a recusou com a singela desculpa de evitar duplicação.

      Afinal, a CPI já investiga o caso. Só que a CPI não tem por assim dizer detetives. Por outro lado, um superpedido de impeachment de Bolsonaro aterrissou na mesa do presidente da Câmara dos Deputados, o impassível Arthur Lira, que faz às vezes de porteiro. Aliás, gatekeeper. Nunca diga em português o que pode ser dito em inglês. Lira pode acionar a guilhotina ou sentar em cima da montanha de documentos contra o presidente da república. É o homem mais poderoso da nação neste regime parlamentarista disfarçado de presidencialismo. O superpedido de impeachment leva a assinatura de parlamentares de esquerda – PCB, PSB, PT, PSTU, Psol, PDT, PCdoB, PCO, Rede Sustentabilidade e Cidadania –, mas também de ex-bolsonaristas como Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP). Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos algozes de Dilma Rousseff, do MBL), também o carimba o documento suprapartidário.

O torpedo altamente vitaminado lista mais de 20 crimes que teriam sido cometidos pelo presidente da república verde-amarela: crimes contra a existência da União; contra o livre exercício dos poderes legislativo e judiciário e dos poderes constitucionais dos estados; contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; contra a segurança interna; contra a probidade na administração; contra a guarda e legal emprego de dinheiro público; contra o cumprimento de decisões do Judiciário. O gatekeeper, ao que consta, não deixará nenhum pedido de impeachment passar da sua portaria. O presidente só não dorme tranquilo por que ano que vem tem eleição. As denúncias, rebatidas a golpes de matraca por seus defensores, fazem sangrar em praça pública.

A última notícia desagradável conta que Pazuello tentou demitir o tóxico Roberto Ferreira Dias em 2020, já acossado por comentários desabonadores, e foi impedido pelo chefe supremo sob pressão do parceiro David Alcolumbre, então presidente do Senado. Enquanto isso, sem passaporte, o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tenta explicar que não se corrompeu ao facilitar a vida dos exploradores de madeira ilegal da Amazônia. Precisa muito porteiro com tanto ataque.


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