O homem na história
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Michel Temer cometeu um erro primário.
Rifou o parceiro Osmar Serraglio para colocar no seu lugar o companheiro Torquato Jardim, um durão capaz de dar um tranco na Polícia Federal e estancar a sangria da Lava Jato.
Serraglio não gostou de ser escanteado sem direito sequer a um carinho do chefe, recusou ser promovido para baixo, deu uma banana para o ministério da Transparência, envolto na obscuridade, voltou para a Câmara dos Deputados, deixou Rocha Loures, o homem da mala, o amigo de Temer, o interlocutor de Joesley Batista com o presidente da República, sem foro privilegiado e abriu-lhe as portas da cadeia. Preso, com a mulher grávida em casa, Loures é um delator à espera de quem o ouça. Esse erro crasso de estratégia poderá sepultar o governo de Michel Temer antes mesmo de os tucanos decidirem sair do ninho.
Como foi possível que Temer, considerado como uma astuta raposa politica, errou tão feio? O professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, em entrevista para o jornal O Globo, analisou a crise do governo Temer nestes termos nada nobres: “A lógica do peemedebismo é a lógica da fragmentação para não deixar ninguém ter uma posição de hegemonia. O PMDB é uma empresa de venda de apoio parlamentar. Isso significa também que o PMDB não tem condição de governar porque para governar você precisa coordenar e o PMDB não tem tecnologia para coordenar governo”. Quem não coordena, atrapalha-se com as cartas. De tanto embaralhar, acaba embaralhado. É que vai acontecer com o PSDB.
Os três partidos que mandaram no Brasil pós-ditadura – PMDB, PSDB e PT – estão na lona comendo a lama que amassaram com as próprias mãos e que os levará de volta ao pó de onde alguns nunca saíram. A porta está aberta para o acaso. O jornal O Estado de São Paulo, que ainda defende Temer com unhas, tinta, dentes e editoriais vergonhosos pelas contradições, começa a flertar com Jair Bolsonaro. O saudoso da ditadura, a viúva maior do regime militar de 1964, apoiado pelo Estadão já estaria procurando o seu ministro da Fazenda. Luís XVI não percebeu que sua cabeça estava prestes a rolar. Temer colocou a sua à disposição do carrasco ao demitir o enrolado Serraglio pela mídia. A vingança é quase sempre o principal catalisador da história. Nada há de novo na frente das batalhas políticas travadas por homens. Tudo retorna como tragicomédia. Até a epígrafe é a mesma: o poder corrompe.