O ignorancialismo como narrativa ideológica

O ignorancialismo como narrativa ideológica

Nazismo não era de esquerda. Em 1964, houve golpe

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O professor Álvaro Laranjeira, da Universidade Tuiuti do Paraná, cunhou a categoria ignorancialismo, que pode ser vista na prática.

      O ignorancialismo é uma visão de mundo.

      O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu uma declaração que o coloca no tempo do ignorancialismo. Segundo ele, o nazismo era de esquerda. A afirmação é desonesta. Contraria o saber acumulado pelos especialistas, o contexto histórico, os documentos, os testemunhos e a ideologia professada por Hitler.

      O comunismo era um dos inimigos a abater pelo nazismo.

      A esquerda pode ser atacada por muitos defeitos, mas não pela defesa de um darwinismo racial, característico da extrema-direita.

      A raça como sistema de hierarquia social não faz parte do imaginário marxista, mas do ideário de extrema-direita ainda em voga.

      Não, o nazismo e o fascismo não eram de esquerda. Eram de extrema-direita. Sustentar o contrário é falsificar a história.

Em 1923, Hitller declarou: "O Marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. O socialismo, ao contrário do marxismo, não repudia a propriedade privada (…) e, ao contrário do marxismo, é patriótico. Poderíamos ter nos denominado o Partido Liberal".

No seu livro repugnante, escreveu: "Foi durante esse período que meus olhos foram abertos a dois perigos cujos nomes eu mal conhecia e não tinha nenhuma noção de seu terrível significado para a existência do povo alemão. Estes dois perigos eram o marxismo e o judaísmo”.

Para que os ignorancialistas sejam desmascarados, Hitler foi mais claro: “Entre os milhões de indivíduos de um mundo que lentamente se corrompia, Karl Marx foi, de fato, um que reconheceu, com o olho seguro de um profeta, a verdadeira substância tóxica e a apanhou para, como um necromante, aniquilar rapidamente a vida das nações livres da terra. Tudo isso, porém, a serviço de sua raça”.
Só a ignorância ou a desonestidade intelectual podem sustentar o contrário.

      O ignorancialismo atacou em outra seara, o golpe midiático-civil-militar de 1964, que, como tal, não pode ser festejado.

  1. Em 1964 houve um golpe, uma ruptura institucional com tanques nas ruas que derrubou um presidente legítimo.
  2. João Goulart não tinha qualquer vínculo com o comunismo.
  3. Jango não preparava um golpe. Portanto, não houve contragolpe.
  4. Não havia guerrilha de esquerda instalada no país.
  5. O golpe não atendeu a demandas da sociedade. Ele foi preparado ao longo de três anos com apoio dos Estados Unidos da América.
  6.  O golpe foi dado para evitar reformas essenciais para o país.
  7. O golpe instaurou uma ditadura que torturou, matou, cassou arbitrariamente parlamentares, prendeu sem devido processo legal e cometeu todo tipo de abuso e crime contra direitos humanos.
  8. A violência começou com os golpistas. A guerrilha de esquerda veio depois. Os crimes dos golpistas começaram em abril de 1964, com a Operação Limpeza, e, só até agosto de 1964, prenderam milhares de pessoas, dando início ao longo período de tortura.
  9. A ditadura conviveu com enorme corrupção, promoveu a censura, enterrou o país na miséria, tolerou o trabalho infantil, ampliou o fosso da desigualdade, produziu uma enorme dívida externa e reproduziu os mecanismos de concentração de renda e poder.
  10. A anistia nos termos da ditadura foi uma artimanha para impedir a punição dos torturadores e dos ditadores. Os que combateram a ditadura foram punidos com prisão, tortura, exílio, condenações por tribunal de exceção e execuções.

O ignorancialismo trava uma guerra pelo controle da narrativa histórica. Quer impor o falso como verdadeiro. É pura ideologia no sentido trivial do termo: deformação do real por força de uma lente que distorce o acontecimento em nome do desejado, produto de uma lavagem cerebral que ignora fatos e abraços ficções.

 


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