O leitor que quer me detestar
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Quero ser ele quando crescer
Por Julio Marengo
Não consigo desgostar de nada do que ele escreve. Torço todo dia para que ele me surpreenda, falando mal do meu time, de alguma banda ou músico, de algum filme ou livro, de autores ou artistas de minha preferência. Nada. Estou sempre à espera e nada. Nada me desagrada. Que triste sina!
Escuto, às vezes, seu programa ou suas participações em outros, mas aquela sensação sempre me acompanhando. Vai ser hoje! Hoje ele vai falar algo que me revoltará, que me despertará desta mesmice em admirá-lo cada dia mais. Ficarei irado. Irei as suas redes sociais e vou apedrejá-lo virtualmente. Como, provavelmente, muitos já o fizeram. Perderei a razão se é que alguma eu tenho. Mais uma vez, ele me decepciona ou me apaixona ainda mais. Sim, apaixona mesmo. Sou bem resolvido e não tenho medo, vergonha ou problema de dizer que sou apaixonada pelos textos de um homem. Acho que, realmente, eu o amo! Amo um homem. Um não! Mas, sim, vários outros homens os quais não caberão se usar para contar os dedos das mãos e dos pés. Mas, este sentimento afetivo aqui descrito é somente por um.
Amo aquele jeito safado e debochado de brincar com as palavras. Às vezes, não entendo um só sentido do que escreve, em outras, infiro vários. Tenho gosto por seus poemas críticos. Amo seu jeito teimoso. Suas descrições de lugares, gostos, cheiros. A saudade de seu lugar de nascimento. A sua melancolia, tristeza e a felicidade. Até mesmo, ultimamente, seu estilo Neymarzete de ser ou de escrever. Ainda tenho dúvidas se ele realmente gosta do Neymar. O certo é que eu não possuo o mínimo apreço por tal artista futebolístico. Apaixono-me, cada vez mais, pela maneira como ele elucida que sofremos um golpe. Ah! O golpe! E foi O Golpe! Ainda acredito que dê uma incrível virada nessa história e ele acabe, aniquile esse amor literário. Outro dia, ele escreveu que um cronista tem que ser provocador, odiado, detestado... Por algum leitor. Então, te desafio e te provoco neste exato momento! Escreva algo que eu odeie e nunca mais volto a ler uma crônica, um livro, um twit seu... Dificilmente isso irá acontecer, pois, até mesmo quando não gosto de algo dele, aceito pacificamente. Se é que isso acontece.
Adoro quando conta de suas atuações no futebol. Quero jogar contra ele. Sou zagueiro e irei dar uma pegada bem de leve, estilo kannemann, que não perde a viagem nunca. Quem sabe ele revide e acabo com essa adoração toda. Venero sua defesa incansável ao povo negro. É exemplar. Tenho inveja de seus alunos. Quanto aprendizado esse homem lhes traz! Quantas são as provocações, os desafios, as dúvidas e as certezas que ele lhes apresenta. Admiro sua bravura na luta contra mitos. Para muitos, com quem converso, isso é loucura. Sua capacidade de desvendar o imaginário é surpreendente. Começo a dar créditos a alguém que lhe disse que não se pode confiar em alguém que não dirige ou tem filhos. Que sandice! Eu dirijo e tenho filho e não consigo associar a nada esse pensamento. Continuo lendo-o, respeitando-o até o momento da desilusão fatal em que vai acabar com tudo. Fazer esse sentimento virar Poeira Cósmica. Estou farto de suas citações de filósofos, pensadores, poetas, escritores e toda aquela laia intelectual que ele nos joga na cara em qualquer texto seu. Fique com essa gente toda para ti, seu socialista, esquerdopata e chatamente correto, seja lá qual é a alcunha que você mereça!
A quem quero enganar? Vou absorver tudo que ele já escreveu, escreve e escreverá. Irei embriagar-me, igual a um bêbado que diz sempre depois do último porre. “Nunca mais vou beber” No meu caso, ler. Nunca mais vou lê-lo! Mentira! Não se assuste, não sou nenhum obcecado, seguidor psicopata ou, pelo menos, acredito não ser. Isso são, indiscutivelmente, respeito e gratidão. Obrigado! Por muitas dúvidas e tantas certezas a cada leitura. Eu quero ser Juremir Machado da Silva quando crescer.