O ministério de Dilma e o preço do poder
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Galo era matreiro e considerava justo driblar a ética em nome da causa.
O fundamental era ganhar da raposa no seu próprio terreiro.
A raposa, que sempre roubou sem complexos, fez vistas grossas para os dribles do galo. Mais do que isso, associou-se a ele. Se antes Galo queria ser diferente, agora aceitava ser igual em nome dos interesses da maioria pobre.
A raposa pagou propina, participou do jogo, cobrou pedágio por seu apoio e atolou-se com o Galo.
Aí, para surpresa do Galo, a raposa botou a boca no trombone. Denunciou tudo. Pregou moral.
Galo cantou baixinho que só estava seguindo o modelo praticado desde sempre pela raposa, que fez pose, indignou-se, fez-se vestal e incendiou a mídia com a sua postura altiva contra a corrupção.
Pobre Galo. Passou a enfrentar a direita que come por fora e a direita que come por dentro.
Para ganhar da direita que come por fora, aliou-se cada vez mais à direita que come por dentro.
Assim ganhou o seu terceiro mandato. Só que precisou entregar alguns dedos.
O novo ministério de Dilma é o resultado desse vitória do Galo. O ministro da Fazenda é tucano. Boa parte é pior do que isso do ponto de vista dos próprios petistas: o filho de Jader Barbalho, inimigo de tantas jornadas, Katia Abreu, que já encarnou o papel da própria raposa, Gilberto Kassab e o PMDB raposão ávido de cargos e de galinhas.
Tudo o que os petistas sempre odiaram.
Deve ser isso que na antiguidade se chamou de vitória de Pirro.
Mais uma vitória como essa e não haverá nada mais a perder.
Um saco de gatos (ops!), uma sopa ideológica, uma salada russa com o único "russo" rebaixado para a Ciência e Tecnologia, ministério reservado a quem tem a sua bancada reduzida pelos eleitores.
A direita que come por fora ainda não assimilou a derrota. Chora e tenta um terceiro turno. Enquanto isso, lobo em pelo de cordeiro, raposa disfarçada de coelho, a direita que come por dentro assa o peru em fogo brando.
Aos eleitores de esquerda, que acreditam em Papai Noel, o presente foi grego.
É o que dá o galo se achar mais esperto que a raposa em matéria de golpes subterrâneos.
Moral da história: o preço do poder é o poder do preço.