O ministério de Dilma e o preço do poder

O ministério de Dilma e o preço do poder

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Era uma vez um galo que se julgava mais esperto que a raposa. Passou anos criticando os malfeitos da raposa, acumulou um capital ético importante e, na quarta tentativa, fazendo algumas concessões resumidas na Carta aos Galináceos, chegou ao poder. Um feito. Mas Galo não tinha lido Maquiavel: difícil mesmo é conservar o poder.

Galo era matreiro e considerava justo driblar a ética em nome da causa.

O fundamental era ganhar da raposa no seu próprio terreiro.

A raposa, que sempre roubou sem complexos, fez vistas grossas para os dribles do galo. Mais do que isso, associou-se a ele. Se antes Galo queria ser diferente, agora aceitava ser igual em nome dos interesses da maioria pobre.

A raposa pagou propina, participou do jogo, cobrou pedágio por seu apoio e atolou-se com o Galo.

Aí, para surpresa do Galo, a raposa botou a boca no trombone. Denunciou tudo. Pregou moral.

Galo cantou baixinho que só estava seguindo o modelo praticado desde sempre pela raposa, que fez pose, indignou-se, fez-se vestal e incendiou a mídia com a sua postura altiva contra a corrupção.

Pobre Galo. Passou a enfrentar a direita que come por fora e a direita que come por dentro.

Para ganhar da direita que come por fora, aliou-se cada vez mais à direita que come por dentro.

Assim ganhou o seu terceiro mandato. Só que precisou entregar alguns dedos.

O novo ministério de Dilma é o resultado desse vitória do Galo. O ministro da Fazenda é tucano. Boa parte é pior do que isso do ponto de vista dos próprios petistas: o filho de Jader Barbalho, inimigo de tantas jornadas, Katia Abreu, que já encarnou o papel da própria raposa, Gilberto Kassab e o PMDB raposão ávido de cargos e de galinhas.

Tudo o que os petistas sempre odiaram.

Deve ser isso que na antiguidade se chamou de vitória de Pirro.

Mais uma vitória como essa e não haverá nada mais a perder.

Um saco de gatos (ops!), uma sopa ideológica, uma salada russa com o único "russo" rebaixado para a Ciência e Tecnologia, ministério reservado a quem tem a sua bancada reduzida pelos eleitores.

A direita que come por fora ainda não assimilou a derrota. Chora e tenta um terceiro turno. Enquanto isso, lobo em pelo de cordeiro, raposa disfarçada de coelho, a direita que come por dentro assa o peru em fogo brando.

Aos eleitores de esquerda, que acreditam em Papai Noel, o presente foi grego.

É o que dá o galo se achar mais esperto que a raposa em matéria de golpes subterrâneos.

Moral da história: o preço do poder é o poder do preço.

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