O novo Capital, os prêmios Nobel e os lacerdinhas

O novo Capital, os prêmios Nobel e os lacerdinhas

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O best-seller do momento não é “Adultério”, de Paulo Coelho. Nem um vampiro qualquer. É o vampiro do capitalismo. Com 400 mil exemplares vendidos nos Estados Unidos e cem mil vendido na França, “O capital no século XXI”, do economista francês Thomas Piketty, impressiona o mundo e provoca polêmica. A tese do autor é simples: as desigualdades sociais atingiram um patamar só existente antes da Primeira Guerra Mundial. O sucesso é tamanho que Piketty foi recebido na Casa Branca e atacado violentamente pelo jornal liberal “Financial Times”, que o acusou de ter trabalhado com indicadores de patrimônio errados. Resposta dele: “As conclusões não se alteram”.

Piketty mostra que as maiores fortunas cresceram, nos últimos 30 anos, três vezes mais rápido do que o patrimônio médio. Ele defende a adoção de um imposto mundial sobre o capital para diminuir a concentração da riqueza. O êxito do livro surpreende ainda mais na medida que o volume francês tem quase mil páginas. Os lacerdinhas brasileiros vibraram com os ataques do “Financial Times”. Mas o destemido prêmio Nobel de economia Paul Krugman escreveu antes disso: “Outros livros sobre economia se tornaram best sellers, mas a contribuição de Piketty é um trabalho de séria erudição e capaz de mudar o discurso, algo que a maioria dos best sellers não é. E os conservadores estão aterrorizados”.

Firme na sela, Piketty desafiou o “Financial Times” a mostrar seus próprios dados. Krugman havia provocado: “O que há mais notável no debate até agora é que a direita parece incapaz de montar qualquer contra-ataque substantivo à teoria de Piketty. Em lugar disso, a reação se limitou aos epítetos - especialmente a alegações de que Piketty é marxista, e que o mesmo pode ser dito sobre qualquer pessoa que considere a desigualdade de renda e riqueza como questão importante”. O “FT” estaria salvando a lavoura com suas críticas. A guerra só está começando.

Enquanto isso, a ironia de Paul Krugman devasta o fígado da Direita Miami no Brasil: “O livro demole o mais acalentado dos mitos conservadores, a insistência em que vivemos em uma meritocracia na qual a grande riqueza é conquistada pelo esforço, e merecida”. Os ricos não são os “criadores de empregos”? Krugman morde no calcanhar: “Como fazer essa defesa se os ricos derivam boa parte de sua renda não do trabalho que fazem mas dos ativos que controlam? E o que fazer se a grande riqueza cada vez mais estiver relacionada a heranças e não ao espírito empreendedor?” Debates econômicos são muito excitantes.

Os dados de Pikertty estão disponíveis na internet. Ele respondeu em mensagem ao “Financial Times”: Eu não tenho dúvida de que minha série histórica de dados pode ser melhorada e será melhorada no futuro... Mas eu ficaria muito surpreso se alguma das conclusões substanciais sobre a evolução de longo prazo da distribuição de riqueza fosse muito afetada por essas melhorias (...) Se o FT produz estatísticas e rankings que mostram o contrário, eu estaria muito interessado em vê-los e ficaria feliz em mudar a minha conclusão!”

Outro Nobel de economia, Joseph Stiglitz, também elogiou o trabalho de Piketty. É incrível como esses economistas ganhadores do Nobel tendem a pensar como eu.

 

 

 

 

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