O plano de Marchezan para os ônibus
Tão moderno e ousado que não parece verdadeiro
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O plano do prefeito Nelson Marchezan Júnior para o transporte coletivo de Porto Alegre é talvez o mais ousado já apresentado por um gestor de uma capital brasileira, uma cidade de grande porte e de enorme complexidade.
Não sei se passará na Câmara de Vereadores, não sei se é exequível, não sei se é mera jogada eleitoreira. Sei que é moderno e ousado. Tem a ver com o futuro. Se fosse o plano de um prefeito de uma cidade escandinava, estaríamos babando. Como ser contra tarifa zero para trabalhador com carteira assinada? Como não querer pagar R$ 2 em vez de R$ 4.70? Como achar ruim que estudante pague R$ 1? O futuro é do transporte público. Mais do que isso, do transporte público gratuito.
Como ser contra taxar aplicativos que aumentam o tráfego nas grandes cidades, contribuem para os engarrafamentos, ajudam a poluir e baseiam-se em relações trabalhistas primitivas ou inexistentes? Como não achar interessante a busca por fontes alternativas que permitam sustentar o transporte público sem cair na pura estatização ou ficar no salve-se quem puder da lei da oferta e da procura? Há problemas no plano? Sim. Deveria ter mais tempo de discussão. Cálculos precisam ser detalhados. O pedágio sobre carros de fora de Porto Alegre teria de ser melhor estudado para não sobrecarregar moradores pobres da região metropolitana que entram diariamente na capital. Há trabalho a fazer.
É possível que Marchezan só esteja jogando para a plateia ou em busca da eliminação dos cobradores, desejo dos empresários. Mas cobrador é função em extinção. Procure o cobrador em Paris? No Brasil, cobrador é ação social num país com alto desemprego, não uma necessidade funcional imperativa. O dinheiro vai desaparecer do transporte coletivo. Hoje, seria mais útil contratar seguranças para os ônibus, embora os assaltos venham caindo substancialmente. Não deixa de ser engraçado ver a esquerda gritar contra o irrealismo e a demagogia do plano neoliberal do prefeito enquanto parte da direita berra contra o novo comunista.
O prefeito que emplacar um plano como esse, dando certo, vira estátua, faz história. Insisto: não sei qual é jogada. Sei que é a proposta mais futurista e modernizadora que vi um prefeito apresentar até hoje.
Só posso desconfiar: é, apesar de fragilidades, boa demais para ser verdade.
Ou deve ser considerada ruim simplesmente por ser de Marchezan?