O PT na lona

A cabeça de Lula estava a prêmio. Continua. Mas ele já beijou a lona como um Anderson Silva em decadência. Foi a nocaute por seus erros. Pode ser até que a oposição não seja tão investigada quanto o governo. Isso não elimina os robustos indícios ou provas de que Lula recebeu agrados de empreiteiras no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá. Se pode alegar que não é dono do apartamento, não pode omitir que é usufrutuário do sítio. Ferrou-se. Por quanto? Não há pouco quando se trata de moralidade pública. O petismo morreu pela primeira vez com o mensalão. Está morrendo pela segunda vez.

Sobreviverá para cometer os mesmos erros? Nas ruas, gente em orgasmo.

O Brasil vive uma guerra civil simbólica. Os erros suplantarão os acertos.

A era Lula-Dilma teve bons momentos: bolsa-família, ProUni, cotas, inclusão social, até, em certa época, uma política internacional mais robusta ou menos medíocre que a de hoje. Depois, desandou. Há quem esteja feliz com a derrocada petista justamente por não gostar de cotas e bolsa-família. Em contrapartida, essas políticas sociais adequadas não poderiam servir de álibi para malfeitos. É tudo tão simples, rasteiro, evidente. A vaca atolou. Os petistas esperneiam, falam em perseguição, reclamam de seletividade nas investigações. Nada disso anula os elementos contra o petismo.

Os petistas parecem essas pessoas que cometem infrações de trânsito e culpam o azulzinho pela multa. Tudo manobra diversionista. Meteu a mão na bola dentro da área. O árbitro viu. As câmaras flagraram. É pênalti. Buscou-se algum ângulo duvidoso. Insultou-se o juiz. Colocou-se sob suspeita a comissão de árbitros. Tudo inútil. Foi pênalti. Ah, mas o árbitro queria muito marcar pênalti contra o PT. Pode ser. Mas não o inventou. Apenas assinalou o que viu. Há três semanas, aqui mesmo, eu disse que um petista influente me havia indicado que chegariam no Lula. Pedra cantada. Lula tinha rabo preso. A oposição ganha com isso? Natural. A direita está feliz? Claro.

A esquerda perdeu uma chance. Sairá dessa lambança com seu DNA marcado como corrupto. Poderá ganhar eleições. O eleitor brasileiro não costuma punir corruptos na urna. Paulo Maluf está aí para provar que tem eleitor indiferente à corrupção. Mas a esquerda vai custar muito a se livrar da pecha de corrupta, que faz por merecer. A direita também é? O que isso muda no estatuto moral da esquerda? Posso fazer um livro só com textos escritos por mim escrevendo “Lulla”. Fui o primeiro a compará-lo a Collor. Lulla não se emendou. Por que precisou de ajuda de empreiteiras para reformar ou obter um sítio? Por que não o comprou com dinheiro ganho limpamente de palestras? Eu acho Lulla inteligente. Mostrou, porém, certa ganância, que é forma de burrice quando se pode ter tudo com honra e glória.

Meu anarquismo triunfa. A coisa mais certa é desconfiar de políticos. Nunca se sabe. Há muitos honestos. Mas o número de desonestos assusta. Declarei a morte do PT aqui várias vezes.

Coloco a lápide: PT (1980-2016). Só não me responsabilizo por espectros.

Dito isso, a  Condução Coercitiva de Lulla foi irregular, desnecessária e política.

Assim como o justo combate à corrupção é uma cortina de fumaça no combate ao comunismo do bolsa-família, das cotas e das políticas sociais. Um torneiro mecânico e uma empregada doméstica como presidente da República e primeira-dama deixam marcas que a moralidade udenista não pode aceitar.