O que restou das ilusões petistas?

O que restou das ilusões petistas?

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Tenho o meu lado gaudério. Gosto de escutar certas músicas gaúchas em tardes de melancolia. Tem uma que me emociona. Fala assim: "DAS CARRETAS SOBRARAM RODADOS/ENFEITANDO OS JARDINS DOS PATRÕES./NOS MUSEUS OS ARREIOS QUEBRADOS, /DAS TROPEADAS SOMENTE ILUSÕES". É o PT. Com uma adaptação: só restaram bandeiras enfeitando os desvão das escadas das casas dos militantes. “Só restou” é uma composição José Hilário Retamozzo e Marco Aurélio Vasconcellos. A decadência do PT é uma obra coletiva escrita pelos caciques da sigla depois do poder.

A letra de “Só restou” é poesia pura: “DOS GAÚCHOS RESTOU PELAS VILAS/O DOMINGO DE MUITOS BALCÕES,/APOJANDO A GUAIACA DOS PILAS/ SOFRENANDO A MÁ SORTE AOS TIRÕES”. Dos bons governos de Lula, presidente que promoveu inclusão social como nunca antes neste país, só restou a crise, o crescimento do desemprego, a desesperança e a desilusão. O PT fez tudo o que condenava nos outros e está sendo condenado pelos outros pelo que eles sempre fizeram ilegalmente. O petismo se meteu num brete e só pode avançar para o despenhadeiro.

O poeta flagrou o fim de uma utopia: “SÓ RESTOU DESSA LENTA AGONIA/DISTORCIDAS E MORTAS VISÕES/DAS PELEIAS DE TEATRO E POESIA/E OS ARPEJOS DE TRISTES VIOLÕES". Nos domingos de tristeza, os petistas reúnem-se em botecos para cantar músicas de antigas campanhas, lembrar das batalhas perdidas e das grandes vitórias consideradas impossíveis. Tocam violão, relembram refrãos e lamentam os desvios, os atalhos, a corrupção, o caixa dois, as alianças e o ocaso.

A letra parece ter sido feita para uma paródia sobre o mergulho petista nas trevas da corrupção: “SÓ RESTOU NOS RADINHOS DE PILHA,/NA GARUPA DE SOM DAS CANÇÕES,/ UM CENTAURO NO ALTAR DAS COXILHAS: O CLICHÊ QUE AINDA CAUSA EMOÇÕES!” O clichê fala da defesa dos oprimidos, do combate aos opressores, do partido da ética, da possibilidade de um mundo melhor e de um líder impoluto que jamais de comportaria como um patrão. Só restou só restou...

Só restou só restou... Só restou...

Outra letra de música gaúcha que se presta a uma paródia para o momento trágico do petismo é “desgarrados”, de Sérgio Napp e Mário Barbará: “Eles se encontram no cais do porto/pelas calçadas/Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,/Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas/E são pingentes das avenidas da capital/Eles se escondem pelos botecos entre cortiços...” Não se trata de tripudiar ou de chutar cachorro morto, mas de tentar retratar o tamanho de um choque. É claro que há petistas impávidos que negam tudo. Algo, porém, se quebrou. A batalha da opinião pública está perdida. A mídia, como sempre, tem jogado pesado para liquidar o petismo. Não chega, contudo, a inventar inteiramente o que dissemina. Entre algumas mentiras, predomina a verdade, ou a suposição dela, hiperdimensionada. IstoÉ publicou a delação do petista Delcídio Amaral. O STF homologou-a. Veja e Jornal Nacional entrevistaram Delcídio, que confirmou tudo e comprometeu Lula e Dilma.

Os petistas não sabem o que dizer ou dizem que é tudo armação. Acreditam nos delatores que entregam tucanos. Estes só acreditam nos que delatam petistas. O cidadão acredita nos delatores e não crê nos partidos. Por toda parte, se ouve o refrão sussurrado: só restou, só restou.

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