Obscena chantagem do PMDB

Obscena chantagem do PMDB

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Num país de partidos capazes de tudo, mas tudo mesmo, o PMDB, ainda assim, consegue se destacar. Nada se faz ele. E isso não é um elogio. Pode-se aplicar à sigla no poder o termo que os jornais do século XIX usavam para se referir ao oneroso D. Pedro I: caro. Não era uma forma de tratamento. Caro PMDB. Sérgio Cabral, pelo jeito, foi o mais caro de todos. O maior talento do PMDB é para a chantagem. Na ânsia de aprovar a sua nefasta reforma da Previdência, com ajuda da mídia amiga e fiel, o partido de Michel Temer esmerou-se na campanha chantagista: “Se a reforma da Previdência não sair, tchau Bolsa Família, adeus Fies, fim das novas estradas, dos programas sociais”.

Não dá vergonha? No popular, que apelação!

Vale tudo.

Mas tudo mesmo.

Em certo momento, com medo de perder a cumplicidade de Moreira Franco, o presidente Michel Temer garantiu que ficar sem seu sempre acusado escudeiro seria uma grande perda para o Brasil.

Qual?

A situação é grave.

Existem versões alternativas para a narrativa peemedebista: “Se Temer não cair, tchau Brasil, adeus aposentadoria, fim da inclusão social e das leis trabalhistas”. Outra possibilidade: “Se Temer não for cassado, tchau Bolsa Família, adeus Fies, fim das novas estradas, dos programas sociais”. A turma, usar outro termo não seria elegante, de Michel Temer está querendo desengavetar um projeto sobre legislação trabalhista e terceirizações parado na Câmara dos Deputados. Tudo para piorar a proposta que está atualmente no Senado com dispositivos pró-trabalhadores. Por esta, a empresa contratante responde solidariamente pelos direitos dos trabalhadores. Por aquele, concebido em 1998, só de forma subsidiária, ou seja, em caso de falha de toda tentativa de cobrança nas instâncias adequadas.

Tradução: quer-se pescar um projeto embolorado, relatado no Senado por um senhor chamado Romero Jucá, famoso pela sua frase “estancar a sangria” da Lava Jato, em 2002. É claro que a repescagem vem embalada com um discurso chantagista: sem algo assim não for aprovado, tchau empregos, adeus carteiras assinadas, fim dos vínculos formais e da proteção trabalhista. Esse pessoal é tão forte em malabarismos que eles sustentam pretender acabar com a legislação trabalhista em defesa da proteção a milhões de trabalhadores hoje desprotegidos pela falta de uma lei das terceirizações.

O colunista Elio Gaspari, que vez ou outra supera suas ambiguidades e suas manias de consagração, resumiu assim a estratégia dos amigos de Michel Temer: “Primeiro nomeamos Jucá e Geddel, depois, Serraglio. Mais um pouco, soltamos Eduardo Cunha. Adiante, definimos que o TSE só tem lâmina para Dilma Rousseff. Com sorte, tiramos Lula do páreo de 2018. Se der, deu”. Se não der, somos convidados a crer no “tchau Bolsa Família, adeus Fies, fim das novas estradas, dos programas sociais”. No passado, não muito distante, o discurso chantagista tinha slogans não muito diferentes, igualmente assertivos: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. O MDB era contra esse tipo de marquetagem. No seu twitter, o deputado peemedebista gaúcho Edson Brum, postou: “O PMDB Nacional não me representa”.

Deixe-o.

 

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