Ordem de bombardeio ao Palácio Piratini

Ordem de bombardeio ao Palácio Piratini

publicidade

Mais um fragmento de Vozes da Legalidade



A hora da verdade, pressupondo-se que a verdade seja mais do que um clichê ou uma maneira de dizer, uma forma de expressão, está chegando. O general Machado Lopes enviara mensagem categórica, mas nem tanto, bem pensado, na tarde de domingo, 27 de agosto, ao ministro da Guerra, Odylio Denys, que deseja manter a ordem desrespeitando-a em nome dos seus mais altos ideais patrióticos: “Governador Brizola declarou-me resistirá contra ação impeça posse João Goulart (...) Situação tensa porém calma III Exército”. Esse é o problema, uma tensão calma alastra-se pela cidade, sobe pelas paredes, escorre com a chuva, assobia com o vento, lambuza as calçada e cheira como um paradoxo. Odylio Denys odeia ambiguidades, desconhece oxímoros, raciocina com os coturnos, é homem de linha reta, linha dura. Responde a Machado Lopes com a limpidez de um canhão: “Elementos comunistas Congresso Estão perturbando encontro solução legal crise decorrente renúncia presidente”. Como pode o gerador da crise vociferar contra os que a ele se opõem? Denys tem seus paradoxos. É aí que ele diz, em terceira pessoa, pois um operador passa a sua mensagem, mas, por ironia, talvez, como se nomear-se seja personalizar o que deve se afirmar como um discurso institucional, grafando “Manifesto”, numa época que militares vomitam manifestos ao ritmo de cronistas prolíficos, com se esse “M” maiúsculo, mesmo que o manifesto de Lott lhe pareça minúsculo, subversivo e estúpido: “Mal. Lott envolvido por tais agitadores lançou Manifesto subversivo forçando Ministro Guerra determinar sua prisão. Ministro pretende defender instituições e manter a lei e ordem em todo o país mesmo que para isso tenha de impedir posse Jango”.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895