Os crimes de abril
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Até Alberto Dines teve de reconhecer: “A primeira lista de prisões foi atroz. As arbitrariedades iniciais, sufocantes. Os mandatos cassados e os expurgos dos dias seguintes foram um choque. A única saída era desprezar Jango, porque fora a sua leviandade, fora a ambição primária dos que o rodeavam as causadoras do expurgo”. Como eram antas os jornalistas conservadores de 1964! Apoiaram a implantação de uma ditadura achando que era a democracia. Carregaram nos braços, no combate à corrupção de esquerda, o rei dos corruptos de direita, o governador de São Paulo Adhemar de Barros, que, dado o golpe, passou a exigir cassações para que a “revolução” pudesse “cumprir o seu objetivo”. Os taipas brincaram com fogo.
Alguns, como Antonio Callado, que se tornaria escritor bajulado, lambuzou-se na lama das suas imagens grotescas: “Jango puxou vários gatilhos. Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que poderia corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de dor física fez com que Jango jamais considerasse a sério o conselho. Talvez por isso tenha cometido seu suicídio indolor na Páscoa”. Um cara que escreve isso é um pulha.
Um medíocre. Era, como hoje, ser moderninho.
Callado, com essa verve, seria, se vivo fosse, colunista da Veja e parceiro dos lacerdinhas.
Ele era capaz de muito pior. Sobre o exílio de Jango no Uruguai: “No mais, o tédio de Dona Maria Teresa, a procurar casa, a levar as crianças à praia, com saudades do Brasil e do carro novo em folha, uma Mercedes verde, tipo esporte, que Jango não tinha querido que ela estreasse, para evitar ostentação. Agora, Dona Maria Teresa, não tem mais o marido Presidente e nem tem o carro (...) Haverá ainda algum futuro político para esse líder de apenas 40 anos? Parece pouco provável (...) E quando, eventualmente, chegar à Presidência da República um homem de esquerda, Jango talvez reapareça como vice”.
A isso se chamava de jornalismo. Alguns sentem saudades desses tempos de suposta profundidade e alta qualidade. O jornalismo brasileiro dos anos 1950 e 1960 era pura ideologia. Não mudou.
Na época, caluniar quase não dava processo. O único jeito de resolver era à bala.
A luta armada no Brasil, resistência das esquerdas à ditadura, começou depois do golpe.
A imprensa, apoiando os defensores do golpe, tenta alterar essas datas.
Pegar em armas contra uma ditadura é absolutamente legítimo.