Os ganhadores da eleição

Os ganhadores da eleição

Direita, vestida de centro, venceu

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O PT foi o grande perdedor da eleição municipal de 2020. Depois dele, o outro perdedor foi Jair Bolsonaro como cabo eleitoral. O Partido dos Trabalhadores não levou uma só capital e ficou, em número de prefeituras, atrás de MDB, PP, PSD, PSDB, DEM, PL, PDT, PSB, PTB e Republicanos. No rodapé da tabela. A sigla de Lula não para de ir em direção ao fundo do poço. Está no nível pré-sal. O PSDB encolheu, mas continua forte em cidades populosas. Manteve São Paulo. A hegemonia tucana em São Paulo é absoluta, digna do PRI no México. O MDB lidera ainda que tenha sofrido desidratação. O PSOL saiu fortalecido. Faturou Belém do Pará. A extrema direita voltou a ser nanica. A esquerda apanhou muito. Os ganhadores foram DEM, PP, PSD e até o Podemos.  A direita que se quer centro.

Copo meio cheio ou meio vazio. O MDB chegou na frente com 784 prefeituras. Ou seja, 251 a menos do que em 2016. O DEM, o PP e o PSD deram saltos. A sigla dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado pulou de 266 para 464 prefeitos. O Progressistas foi de 495 para 685. O PSD, de Gilberto Kassab, de 537 para 654. É um partido elástico. No Rio Grande do Sul, abriga do autodenominado conservador Valter Nagelstein ao ex-petista Jairo Jorge, reeleito para gerir Canoas. Em outras palavras, ganharam partidos próximos do Centrão, nem todos formalmente do bloco, mas com cara e cheiro de centrão.

Na esquerda, Guilherme Boulos adquiriu nova dimensão e deve ressurgir em 2022.  O recado das urnas parece claro: os petistas ainda não foram perdoados pelas tantas que aprontaram nos anos de fausto. Se a esquerda não se reinventar, vai continuar patinando. Que tal uma nova esquerda sólida, ampla, atual e não marxista? Partido com comunista no nome tem cheiro de naftalina. O comunismo tem passado e presente pouco recomendáveis. Rotular-se de comunista facilita o trabalha dos adversários, dos marqueteiros e até dos criadores de fake news. Quem sabe o PNE (Partido da Nova Esquerda), socialdemocrata de verdade e de ideologia, sintonizado com uma nova sensibilidade? Em São Paulo, Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e Flávio Dino deram apoio no segundo turno a Boulos. Ensaiaram a frente de que precisam para 2022. Serão capazes de mantê-la na hora da verdade?

Sebastião Melo realizou o seu sonho de ser prefeito de Porto Alegre. Agora, terá de tratar da realidade da cidade, conhecida nos últimos anos por seus buracos, moradores de rua instalados em parques como a Redenção, obras inacabadas, lixo a céu aberto. Para ganhar, Melo prometeu não fechar a economia. Só faltou combinar com o vírus. O que fará se a vacina demorar e a epidemia continuar a se espalhar como está acontecendo neste repique? Outros perdedores de sempre foram os institutos de pesquisa. Por ironia, a única sondagem que acertou o resultado de Porto Alegre foi a pesquisa falsa divulgada na véspera da eleição. Haverá uma investigação sobre quem a produziu? Ou entrará para a lista do folclore eleitoral com impacto nunca verificado? Tudo muda para ficar igual. Direita vira centro.

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Um grande lamento pela morte do artista plástico Gelson Radaelli. Meus pêsames à Rogéria, amiga de tantos anos, e aos seus filhos Túlia e Teodoro. As perdas em 2020 têm sido enormes.


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