Os indignados da Europa

Os indignados da Europa

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Os indignados da Europa

Estou em Paris.
Hoje, 21 de junho, começa o verão.
E tem a festa da música em toda a França.
Paris vai virar a noite cantando, dançando e tocando.
Mas é dia também de greve de trem.
Greve do RER, o trem que liga Paris com a sua periferia.
Os europeus continuam os mesmos.
Seres bizarros.
Eles cultivam uma estranha mania.
Mania que tem mostrado seus dentes na Grécia e na Espanha.
A mania dos indignados.
Esses seres bizarros entendem que o Estado deve servir a sociedade inteira.
Defendem que o bolo social deve ser dividido de maneira a que não existam pessoas de segunda classe.
Os indignados da Espanha bateram numa tecla: para que democracia se são os banqueiros que governam?
Os portugueses vão pelo mesmo caminho.
A França está a  um milímetro da explorão de ira.
Contra o que todos se indignam?
Contra um estranho socialismo que distribui o dinheiro de todo mundo para salvar bancos.
Contra a socialização do desastre da especulação financeira.
Contra a privatização dos impostos em benefício dos banqueiros que produziram uma crise mundial.
Malucos esses europeus.
Protestam, acampam nas praças, manifestam-se, não engolem a ideia de que devem apertar os cintos para corrigir os erros das elites financeiras que não param de soltar o cinto para abrigar o crescimento da barriga.
Bizarros esses europeus.
Querem uma sociedade mais justa.
Não aceitem que os geradores da crise ditem as regras para a sua superação.
Se fosse no Brasil, seriam destruídos com risinhos debochados e matérias zombeteiras da moderníssima Veja.
Por aqui, a mídia é cobrada. Exige-se que ela se ponha da lado da sociedade.
Nesse ritmo, a velha Europa ainda vai levar alguns séculos para nos alcançar.
Imaginem que o ex-presidente da França, Jacques Chirac, está sendo processado por corrupção e pode pegar dez anos de cadeia. Que desrespeito!
Uma cidade com uma entrada de metrô em cada canto nunca terá uma elite superior como a paulistana.
Jamais terá a fineza do pessoal de Higienópolis, que acha metrô bom para pobre.
Essa Europa é mesmo um atraso.

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