Os vadios da base do Sartori e os agiotas da Dilma

Os vadios da base do Sartori e os agiotas da Dilma

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Eu acredito na boa fé do governador José Ivo Sartori. Sinto que ele é um homem profundamente honesto. Noto isso na sua permanente inclinação para a brincadeira. Sartori é um sujeito simples que costuma deixar escapar o que pensa.

A bonomia de Sartori salta pelos olhos. É gente de bem.

Mas aprendeu a cultivar certo gosto por estratégias típicas da política tradicional. É um Felipão sem arrogância. Para ganhar, faz que vai para um lado, mas vai para outro. O perigo dessa esperteza toda é tomar 7 a 1 em casa e nem saber explicar a razão.

Tenho certeza de que Sartori pretende sanear as finanças do Rio Grande do Sul. Para isso, adota certas malandragens. Primeiro, absurdamente, recusou-se a pedir à Assembleia Legislativa a ampliação do uso dos depósitos judiciais. Ficou, como continua, negociando com os deputados para fazer avançar os seus projetos mais dolorosos como o do aumento do imposto.

Depois, diante da violência dos fatos, aceitou usar os depósitos judiciais. Tudo lentamente.

Por que o projeto não foi protocolado ontem?

Por que não foi publicado meia horas depois?

Por que não está pautado para votação na quinta-feira?

Por que os deputados deram-se três dias de folga na Expointer?

O líder do PMDB na Assembleia, deputado Álvaro Boessio, saiu do anonimato local para a fama nacional infamante ao chamar os funcionários públicos, "não todos, mas boa parte", de "vadios". Será por isso que podem ficar sem receber?

O honesto Sartori está errando na estratégia. É fácil cortar o baixo salário de um professor ou de um brigadiano. Difícil mesmo é peitar a falsa independência do judiciário e do legislativo em questões orçamentárias e levar ao parcelamento dos altos ganhos dos poderes canibais. O judiciário aceitou perder metade dos juros dos depósitos judiciais.

Não deveria receber nada. É  só um intermediário.

Essa matéria deveria ser decidida exclusivamente pelo parlamento.

Expor quem ganha menos de dois mil reais à humilhação de ficar sem dinheiro para comer, pagar aluguel e pegar ônibus, enquanto os nababos de outros poderes embolsam seus gordos auxílios e seus polpudos salários, é covardia.

Quase metade dos secretários de Sartori ganha de outras fontes.

O deles, como se diz no popular, está entrando integralmente.

Fica mais fácil cortar o dos outros.

As medidas de Sartori perdem a legitimidade na medida em que a turma dos camarotes não é atingida pelos cortes.

É ilegal não repassar a parte do judiciário? Também é ilegal não pagar os funcionários do executivo. O argumento usado para calar o funcionalismo – não tem dinheiro, portanto não tem como cumprir a lei – pode ser aplicado aos demais poderes.

O Rio Grande do Sul está sendo vítima da agiotagem da União com seus juros escorchantes para pagar banqueiro estrangeiro.

O Rio Grande do Sul está sendo objeto de uma estratégia errada que penaliza os mais fracos.

Chamar os funcionários de vadios não representa quebra de decoro?

Representa, com certeza, uma baita falta de educação, de sensibilidade e de sentimento de humanidade.

Não há vadios em parte alguma. Nem no funcionalismo. Nem na base do governo.

Há, porém, estratégias desastrosas. Parar a Assembleia quando a população precisa de votações tão urgentes quando oxigênio numa UTI é uma atitude lamentável, uma atitude temerária, um deboche, um menosprezo pelo desespero dos outros.

A sociedade está entregue a si na maior parte das ruas. Dado que os políticos da base aliada do governo não tem clemência, achando que dá para esperar mais uma semana ou dez dias, temos de pedir clemência aos bandidos.

Por favor, bandidos, fiquem em casa. Respeitem a impotência dos que, sem salário, não podem trabalhar nem se opor a vocês.

E os professores, esses bravos professores, mulheres, na maioria, que fazem dupla jornada de trabalho, esfalfam-se, lutam, não recebem o piso nacional legal, domam alunos cada vez mais indisciplinados, ganham pouco, pois o maior salário de um professor não faz cócegas nos ganhos de um deputado, de um secretário, de um magistrado (ah, de uma magistrado!), pobres professores, sempre convidados a esperar, a resignar-se, a aceitar, a vergar-se, a receber precatórios de antigamente.

Professores, brigadianos, policiais civis, profissionais da saúde, brava gente gaúcha, verdadeiros heróis do cotidiano.

São esses que devem esperar sem poupança, sem rede de segurança, sem margem de manobra.

Caros bandidos, tenham pena desse povo. O governo já lhes tirou tudo.

Poupem-lhes, ao menos, a vida.

Exagero retórico?

Pensem numa família esperando uma semana sem dinheiro para nada.

Tudo também porque o governo da petista Dilma Rousseff não dá mole: primeiro a grana dos seus agiotas!

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