Oscar, engajamento globalizado

Oscar, engajamento globalizado

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 Cerimônia de entrega de Oscar é quase tão emocionante e divertido quanto a colação de grau do filho de um amigo ao final da faculdade. Bom é a festa depois. Já cobri muito festival de cinema na Europa: Cannes, Berlim, Veneza. Eu conhecia os nomes de todos os atores e diretores e corria atrás deles como um menino louco por doce. Cada entrevista era um orgasmo. Atualmente, por distração, vou ao cinema todas as semanas, mas não guardo nome de quase ninguém. Chego a sair da sala sem ter lido os nomes dos protagonistas. Só as histórias me interessam.

Raramente um desempenho me fascina ou até deslumbra.

Filmes oscarizados passam de maneira fulminante.

É como novela. Um mês depois já começa a confusão e o esquecimento. Fulano estava naquela? Não, na outra. Assim vai. Sou rabugento? Claro que não. Imagina! Eu me acho muito engraçado. Tenho investigado o universo da Netflix. A badalada série “Black Mirror” é uma das coisas mais tolinhas já inventadas, uma ficção científica de sessão da tarde perfeita para uma sesta. Coisa de americano. Mais de dois capítulos sobre a vida de Pablo Escobar só se for estágio para atuar no tráfico.

Apesar disso, presto atenção nos discursos do Oscar. Depois das denúncias de racismo, o famoso “Oscars so White" (Oscar muito Branco) de outra edição, estão bombando os justos ataques a sexismo, homofobia, assédio sexual e preconceito. As atrizes não perdem mais oportunidade de revelar que são discriminadas em remuneração. Como em Hollywood tudo é reciclado para dar lucro sempre tem um apresentador para se apropriar do material disponível e fazer humor rentável. Jimmy Kimmil cumpriu bem o contrato em 2017 e voltou para 2018. Eu já tinha me esquecido completamente dele.  Até já ia dizer “muito prazer”.

Os discursos das celebridades do Oscar indicam algo muito importante: nossa época está vivendo grandes transformações comportamentais. Vamos acompanhá-las, ignorá-las ou, como fazem muitas estrelas midiáticas brasileiras, combatê-las como parte do sempre vilipendiado politicamente correto? O cavalo está passando encilhado. AS grandes revoluções já não se fazem anunciar com estrondos. Servem-se até dos tapetes vermelhos mais institucionalizados e admirados.

O que tenho a dizer sobre o filme mais premiado? Nada. Não vi. Por tudo que li a respeito, não verei. “A forma da água” é o tipo de filme que me faz mudar de calçada para não correr o risco de entrar no cinema. Ah, não tem mais cinema de calçada! Mas tem porta de shopping. Adotei um estanho princípio: não saio mais voluntariamente de casa para me entristecer nem para me afundar em experiências sombrias. Só vejo comédia? Quase nunca. Comediantes costumam me entediar. Salvo se for Woody Allen, que não perco, embora sempre ache bem repetitivo.

Sinceridade? Papo reto para liquidar a fatura? Oscar é muito chato. Mais chato do que isso só hino nacional antes de jogo de futebol. O grande show do Oscar 2018 foi a diversidade. O pessoal de Hollywood sabe que é coisa séria e está prestando um bom serviço.

 

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