Paris antes da aterrissagem

Paris antes da aterrissagem

publicidade

As cores do outono parisiense, com as folhas soltadas pelas calçadas e as árvores nuas, parecem caídas de um quadro impressionista da coleção Paul Durand-Ruel exposta no Museu Luxemburgo.

A persistência do céu cinza, ao longo de uma semana, em contraste, revela, talvez, a razão da teimosia europeia.

Por toda parte, franceses suspiram e exclamam: "Fini les beaux jours".

Foram-se os belos dias.  O inverno já se anuncia.

A calefação começa a ser ligada nos lugares públicos.

O cheiro de castanha assada já se eleva no ar.

As novidades, porém, estão programadas no calendário.

Chegou, como em todo mês de novembro, o Beaujolais Nouveau, vinho a ser bebido jovem como um sangue renovador.

A rentrée literária, essas volta às aulas com lançamentos sacode a mídia e as livrarias.

Dá muito o que falar um livro com título curioso, A felicidade nacional bruta, de François Roux, um perfil dos anos que levaram os socialistas ao poder e fizeram dobrar os sinos por mais uma utopia, a do capitalismo humanizado.

O grande lançamento, contudo, espera o forte do inverno chegar. É o novo romance do sempre enfant terrible Michel Houellebecq, que promete botar fogo na França com mais uma polêmica ironicamente sob medida.

Enquanto seu romance não sai, Houellebecq surpreende com Before Landing, uma exposição de fotos em Ménilmontant.

O natural e o artificial unidos numa sequência de imagens capturadas pelo olhar de um poeta saturado de tudo.

Na Velha Europa, tudo parece sempre igual.

Até a novidade está deliciosamente prevista no calendário.

A vida segue, como antigamente, o ritmo das estações.

Até a Estação Père-Lachaise.

Vida longa a todos.

Um amigo francês me fala das coisas bizarras da sua vida.

Ele tem um blog.

Todo dia, um cara que ele chama de "o nazista do Reno" dispara contra ele as mesmas asneiras de extrema direita.

Um outro, com vários fakes, defende as maravilhas do capitalismo e o acusa de ser comunista.

Um terceiro, ensandecido, defende o regime colaboracionista de Pétain.

Outro, que ele chama de o "reacionário volante", acusa-o de proteger o socialista François Hollande.

Há muito ele adotou uma maneira de se livrar das malas: seu estagiário, com uma lista de chatos, elimina os psicopatas antes de passar-lhe os comentários a serem lidos, respondidos, considerados ou simplesmente vistos.

Pediu alguns dos comentários ao estagiário para me mostrar.

Morri de rir.

Já vi esse filme, foi tudo o que pude dizer.

Por toda parte, o mundo é o mesmo.

Au revoir!

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895