Patrimônios gaúchos

Patrimônios gaúchos

Nossos valores e façanhas

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      O nosso Correio do Povo festejou os seus 124 anos neste 1º de outubro. O Mercado Público de Porto Alegre chegou a 150 anos neste 3 de outubro. A Revolução de 1930, também ontem, alcançou 89 anos. Quanta história! Escrevi um livro, que considero, sem falsa modéstia, um exemplo de monografia, no sentido que se pode extrair do pensamento do historiador italiano Carlo Ginzburg, intitulado “Correio do Povo, a primeira semana de um jornal centenário”. Aprendi a admirar profundamente Caldas Júnior, o fundador do nosso jornal, que junto com dois parceiros, um dos quais o negro Paulino Azurenha, criou um veículo “noticioso, literário e comercial” num tempo de partidarismos.

      Faz 19 anos que escrevo no Correio do Povo, que está mais pluralista do que nunca. Pluralista, preciso e sempre comprometido com a verdade. Faz 40 anos que passeio no Mercado Público. Espero que ele não seja transformado num shopping center por meio de uma concessão, termo usado para privatizações por tempo determinado. Escrevi outro livro, “1930, águas da revolução”, contando a história do movimento, comandado pelo gaúcho Getúlio Vargas, que arrancou o Brasil do atraso, apostou na industrialização e nos levou de uma espécie de “feudalismo” tropical para o estágio de nação com proteção social e legislação trabalhista. Ganhamos a revolução de 1930. Comemoramos, porém, aquela que perdemos. São Paulo também festeja uma derrota, a de 1932.

      O Correio do Povo, o Mercado Público de Porto Alegre e a revolução de 1930 são patrimônios do Rio Grande do Sul. Pérolas de uma história cheia de façanhas. Que outro Estado, com dois grandes clubes de futebol, tem dois títulos mundiais e cinco Libertadores da América? Quantos Estados têm jornais circulando a todo vapor com quase 125 anos de existência? Que Estado periférico aproveitou o cavalo que passava encilhado, tomou o trem da revolução, empalmou o poder e mudou o Brasil? Estou ficando bairrista? O nosso bairrismo é reativo ou ancorado em números e fatos extraordinários. Mesmo com alguma dificuldade, o Grêmio parou a badalada “seleção” flamenguista, com técnico europeu e tudo, há dois dias. O Flamengo teve até transmissão do ponto de vista do clube na Fox. Era o Brasil contra o Grêmio.

      O coirmão resistiu bravamente e poderá eliminar os cariocas em pleno Maracanã. Eu preferia que fosse o Inter. Mas não deixo de ficar orgulhoso. Ando tão apaixonado pelas nossas coisas que abro mão até do prazer e da obrigação de “secar” o arquirrival. Toda manhã, quando busco o meu exemplar do Correio do Povo embaixo da porta, sinto orgulho. Se duvidar, canto nosso hino de pijama. Vai começar a Feira do Livro de Porto Alegre. Não tem para Flip ou Bienal do Livro. Não tem para ninguém. A nossa Feira é imbatível. O Brasil só mudou depois que amarramos nossos cavalos no obelisco, no Rio de Janeiro. Enfim, sejamos modestos, que temos nossos defeitos. O Correio do Povo, o Mercado Público e a Revolução de 1930, contudo, enchem o nosso peito de alegrias, de ufanismo e de esperanças. Sem xenofobia obviamente. Nosso presidente, Sidney Costa, é carioca e está mandando muito bem.


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