Patrono da Feira do Livro Binacional Livramento - Rivera

Patrono da Feira do Livro Binacional Livramento - Rivera

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Estive em Santana como patrono da III Feira Binacional do Livro, Livramento – Rivera. Bota honra nisso.

Foi dez.

Tenho sido patrono de muitas feiras de livro no Rio Grande do Sul. Cito algumas: São Lourenço do Sul, Imbé, Carlos Barbosa, São Sepé, Fetreli (Três Passos), Alegrete, etc. Aceito essas homenagens não pedidas com a humildade de quem, atuando como polemista e fazendo ares, quando necessário, de arrogante, sabe da importância do olhar dos outros. Nunca vi um patrono mal escolhido. Já vi patrono mal pago. Quero dizer, bem pago demais. Em Porto Alegre, cada patrono tem sido um achado. Penso, por exemplo, nos últimos: a Jane Tutikian, o Paixão Côrtes e o Carlos Urbim. Só gente boa e de grandes contribuições para a nossa cultura. Em 2012, a escolha do poeta Luiz Coronel não poderia ser mais justa. Já era bem tempo.

Lamento é que não se tenha encontrado ainda um jeito de dar o patronato a Sérgio Faraco e a Luiz de Miranda. Tenho certeza de que isso ainda acontecerá. Eu suspenderia o sistema atual de escolha para homenagear Faraco, Miranda, Tabajara Ruas, João Gilberto Noll, Carlos Jorge Appel, Letícia Wierzchowski, Voltaire Schilling, Sergius Gonzaga Martha Medeiros e Eduardo Bueno. Faraco e Tabajara são unanimidades como escritores. Miranda largou tudo para viver de poesia. Voltaire, Appel e Sergius são intelectuais e agitadores culturais incontornáveis, mestres de todos nós. Letícia, Marta e Peninha têm nome nacional, frequentam listas de mais vendidos e, como se costuma dizer, “fazem sucesso lá fora”. Acontece que muitos desses aí não aceitam concorrer. Eu desisti quando me dei conta de que estava tentando passar na frente de alguns dos nossos monstros sagrados. Sentiria vergonha de ser patrono antes de Faraco, Appel, Sergius, Noll, Voltaire e Luiz de Miranda.

Se continuasse, acabaria escolhido nem que fosse para se verem livres de mim. Mas não seria justo. Em Livramento, estarei em casa. É a homenagem ao filho da terra. Isso me sensibiliza. Cada vez gosto menos de prêmios. Quase sempre tem falcatrua. Neste ano, fui finalista do Jabuti, com “Um escritor no fim do mundo”. A editora tem direito de me inscrever. Está no contrato. Concorri na categoria “reportagem”. Só que meu livro nada tem de reportagem. É uma narrativa de viagem. Um jurado, na categoria romance, deu zero para uma escritora renomada de maneira a, no cálculo da média, favorecer o seu preferido, um novato amigo. É a velha luta entre a panelinha dos consagrados e a panelinha dos novatos organizados. É assim que o Jabuti vira Cágado. Livramento vem homenageando seus filhos em boa ordem. Urbim foi consagrado antes de mim. Não é um duelo de grandezas literárias. Mas um reconhecimento aos nossos esforços.

Voltar a Livramento, para um guri de Palomas, como patrono da Feira Binacional do Livro é uma façanha. Quando eu vendia melancia na beira da BR-158 lendo “O vermelho e o negro” e “Uma educação sentimental”, via-me, às vezes, como um Julien Sorel tentando encontrar uma maneira de “monter à Porto Alegre” para vencer. Não fui muito longe. Esta vitória, simbolizada neste patronato binacional, foi um grande triunfo. Uma coroação desmedida.

Eu me senti em casa.

Feliz com se estivesse tomando banho de sanga.

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