Paulo Guedes, um gênio

Paulo Guedes, um gênio

A reforma da Previdência do superministro

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Sempre devemos reverenciar os gênios.

Às vezes, o tempo demora a reconhecer a genialidade de alguns. Até o ano passado, Paulo Guedes, 69 anos, só era conhecido pela tribo dos economistas, que se divide, em geral, em duas aldeias, a dos neoliberais e a dos desenvolvimentistas, que se encontram em congressos, colóquios e seminários para se odiar. Até para os velhos liberais, Guedes era um excêntrico, radical, membro da subcategoria dos Chicago Boys, especialistas formados na Universidade de Chicago com a missão de diminuir ao mínimo o Estado nos seus países. O grande laboratório dos Chicago Boys foi o Chile de Pinochet. Lá, os militares implantaram o regime de Previdência por capitalização para os civis. Ponderadamente trataram de ficar de fora da ousada experiência.

      O resultado chegou depois de 40 anos: um fracasso. Velhos recebendo menos do que o salário mínimo. Suicídio de idosos batendo recordes. Guedes garante que esse é apenas o efeito colateral da perfeição do sistema. Vamos ao que interessa: Paulo Guedes é um gênio. Vai ganhar o Nobel da economia com os pés nas costas. O que é o regime de aposentadoria por capitalização? Nada mais, nada menos do que cada um fazer a sua poupança para a velhice. Só isso? Só. Cada um bota um dinheirinho de lado para bancar a sua aposentadoria. Empregador e Estado, na fórmula mais acabada da ideia, lavam as mãos e param de se meter na vida privada das pessoas. Não é fantástico? Tem um problema: o que fazer com quem não quer poupar? Mais simples ainda é a resposta: obrigá-lo. Como se diz em matemática, a elegância da fórmula é acachapante. Parece um poema de T.S. Eliot. Não?

      Como é que uma ideia tão genial não vem sendo aplicada por todas as democracias desenvolvidas do mundo? A genialidade custa a ser aceita. Lamento que não verei o resultado da experiência de Guedes no Brasil. Nem ele. Levará quatro décadas, como no Chile, para se chegar aos frutos ou aos estragos. O regime de capitalização está atrelado a investimento de risco. Guedes, ex-banqueiro, confia no mercado. O trabalhador poderá levar a sua poupança para o banco que estiver pagando mais e sacar quando estiver precisando. Por exemplo, em momento de desemprego. Vai sobrar alguma coisa? Não é espetacular imaginar esse trabalhador que investe, escolhe o melhor rendimento, saca quando precisa, volta a investir e goza a sua aposentadoria graças aos bons números oferecidos pelos bancos?

      Chicago Boys são práticos, embora teóricos. Gostam de democracia, mas gostam mais de resultados. Se for preciso, apoiam uma ditadura em nome do pragmatismo econômico. Não fazer isso é para eles sinal de ideologia. Quantas ditaduras os Estados Unidos, pátria da democracia, já apoiaram em nome da economia? A história vai buscar o gênio onde ele estiver. Jair Bolsonaro tirou Paulo Guedes do anonimato acadêmico para lhe oferecer a glória de um experimento concreto. Mais de 200 milhões de brasileiros serão cobaias de Guedes. A ciência exige o nosso sacrifício. Marchemos, cidadãos, para o cadafalso. Paulo Guedes será o novo Charles Darwin. A proposta de reforma da previdência de Paulo Guedes esfola os pobres.

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PEC da Reforma da Previdência

Art. 201-A.Lei complementar de iniciativa do Poder Executivo federal instituirá novo regime de previdência social, organizado com base em sistema de capitalização, na modalidade de contribuição definida, de caráter obrigatório para quem aderir, com a previsão de conta vinculada para cada trabalhador e de constituição de reserva individual para o pagamento do benefício, admitida capitalização nocional, vedada qualquer forma de uso compulsório dos recursos por parte de ente federativo.”

 


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