Perfume de Natal

Perfume de Natal

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Entre as minhas alegrias

Uma das últimas iguarias

Está olhar a chuva

 

Essa chuva de verão

Com grãos platinados

Que me traz o passado

 

Entre os meus espantos

Está essa velha alegria

Com as chuvas do passado

E os verões do olhar

 

Estendo as mãos na janela

Recolho os pingos em cantos

Molho os olhos de lágrimas

Que se confundem com vozes

 

A chuva vem da infância

Metafísica da existência

Território dos algozes

Junto às frutas do pomar

 

Olho a chuva e viajo

Vejo anas e fátimas

Lírios, mel e trilhos

 

Olhando a chuva aprendo

Com as metáforas mortas

Sobre a nudez das paredes

 

Cada pingo, cada banho

Cada chuva, cada nuvem

É a narração da história

 

Quando enfim me recolho

Tenho os braços lavados

Com o perfume da memória.

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