Planos para privatizar a Redenção

Planos para privatizar a Redenção

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As piores ideias sempre retornam piores ainda.

É uma lei do conservadorismo.

Há quem só sinta em liberdade por trás de muitas grades.

Viver é muito perigoso.

Está de novo em discussão cercar o parque da Redenção, grande área verde da região central de Porto Alegre.

Por que não o Parcão?

Por que não todos os parques da capital? Por que essa obsessão com a Redenção? A ideia agora vem envelopada como consulta à população por meio de um plebiscito. É uma forma astuciosa de relançar um velho e rejeitado projeto. Deve ter votação hoje na Câmara de Vereadores. A Redenção vive no olho do furacão. O jornalista Elmar Bones, no livro “Hospital de Clínicas de Porto Alegre”, conta que, em novembro de 1936, “foi apresentado estudo arquitetônico preliminar para a cidade universitária, incluindo hospital-escola, com localização no recém-batizado Parque Farroupilha, antiga Redenção. A população rejeita a ideia”. Mais uma vez a população terá de rejeitar uma bobagem.

As obras do Hospital de Clínicas começaram em outubro de 1947. Dois anos depois, estavam concluídos alicerces e paredes do subsolo. Em 1953, foi preciso demolir o que estava construído “por incompatibilidade com o projeto”. Nova empresa foi contratada. Assim vamos. Que sina! Já tem gente sonhando em fechar a Redenção e entregá-la para administração de uma empresa privada, que teria direito de explorar projetos comerciais dentro do parque. Cercar para privatizar. Com cerca e controle na entrada, seria possível selecionar os frequentadores. Argumenta-se que isso permitiria o uso seguro do parque até de madrugada. Talvez fique mais fácil para alguém ser assaltado se não alcançar um dos portões e for apertado contra as grades. Tudo é possível. Melhor não sair mais de casa.

Uma ideia simples não vem sendo levada em consideração por ser fácil demais: melhorar a iluminação do parque, reforçar o policiamento, ou colocar algum, caprichar na infraestrutura, com banheiros limpos, espalhar câmeras de segurança e garantir que o espaço continue público. O problema é que na mente de alguns só cerca e privatização rimam com modernidade. É um dogma. Moderno é viver em condomínios fechados, frequentar shoppings transformados em fortalezas, gradear parques e praças e entregar tudo para administração privada. É assim que surgem os “bons negócios”. Quem sabe cobrar entrada para “ajudar” na manutenção da área? Não vai faltar um “moderno” para ter um ideia genial do tipo “um real não é nada, mas pode ajudar muito”. As áreas de Porto Alegre sofrem. Queriam construir apartamentos de luxo no Pontal do Estaleiro. A população rejeitou. Ajudei como pude. Vamos lá à luta novamente.

Quando um vereador apresentar um projeto para cercar e privatizar o Parcão, situado no charmoso Moinhos de Vento, levarei um pouco mais a sério tais intenções securitárias. O plebiscito para esse tipo ideia está na regra do jogo. Os defensores querem contar com o medo semeado cotidianamente para convencer a população de que estamos à beira do caos. Eu já formei a minha convicção: por trás da cerca está a sanha de privatização. Se a questão é segurança, câmeras e policiamento serão mais úteis. Deixem a bela Redenção em paz.

 

 

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