PMDB vai dar o golpe do século

PMDB vai dar o golpe do século

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Orgulhoso da sua luta contra a ditadura, embora muitos o acusem de ter feito o jogo prescrito pelos militares para a oposição consentida, o PMDB vai dar o golpe do século derrubando Dilma.

O PMDB faz parte do governo. Michel Temer foi eleito junto com Dilma.

Caberia ao PMDB dar sustentabilidade ao governo na crise. Ajudar a tirar o país do atoleiro.

Além disso, o PMDB é acusado de parceria com o PT no saque à Petrobras.

Deveria ajudar o governo a explicar os fatos.

Em contradição com o papel que deveria exercer, o PMDB trai abertamente: faz papel de limpo, deixando toda a culpa para o PT, do qual se afasta num jogo de cena. Aplica a teoria do domínio do fato a Dilma – ela tinha de saber –, mas não faz o mesmo com Michel Temer. Criminaliza todo o PT pelos malfeitos de uma parte, mas não aplica o mesmo critério no que lhe diz respeito. Faz o oposto.

Na lógica política, PT e PMDB são o governo. O PMDB reclama de não ter protagonismo. Foi eleito para dar sustentação. Se quer o protagonismo, precisa apresentar candidato e ganhar uma eleição.

Na lógica criminal, PT e PMDB são parceiros e precisam responder juntos pelas acusações que sofrem.

Na lógica ética, um não pode se eximir da culpa deixando toda a responsabilidade ao outro.

Até na bandidagem existe uma "ética" que não aceita a "trairagem".

Nos bastidores, o PMDB costura a salvação de Eduardo Cunha, réu por corrupção. Cunha derruba Dilma e, pelos serviços prestados, abdica da presidência da Câmara e não é cassado. Mais um golpe contra a ética. Mais um golpe contra a transparência. Mais um golpe contra a democracia. Mais uma trapaça.

Uma oposição, crivada de acusações de corrupção, que se vale de um réu por corrupção para derrubar uma presidente da República que não responde por crime algum até agora, revela falta de escrúpulos.

Cunha, o réu, derrubará Dilma, que ainda não é sequer investigada?

A ousadia do PMDB só é batida pelo deboche do PP, o terceiro elemento, segundo a Lava Jato, no saque à Petrobras, que colocou Paulo Maluf e outros citados na operação de Sérgio Moro na comissão do impeachment. O PP zomba dos brasileiros desde quando era Arena. Agora, superou-se.

No atual ambiente, em que todos são suspeitos, ainda mais depois da divulgação da lista da Odebrecht, só uma renúncia geral - de Dilma, Temer, deputados e senadores – permitiria reconstituir, com eleições gerais, uma legitimidade perdida por todos. O Brasil precisa de uma nova inocência eleitoral.

Derrubar Dilma pelas pedaladas – pretexto inventado por acusados de corrupção e jamais aplicado a outros presidentes – para entregar o poder a Temer, citado na Lava Jato e presidente de um partido acusado de cumplicidade nas ilegalidades mais relevantes, é golpe em vários sentidos: malandragem, esperteza, ardil, rasteira, traição, politicagem barata, cinismo, manobra, estultice...

Eduardo Cunha, réu peemedebista, comandar a derrubada do governo em favor de Michel Temer, citado por delatores na Lava Jato, é uma situação de peça do teatro do absurdo. Considerar Eduardo Cunha mal menor na luta contra Dilma, mal maior, é ideologismo rasteiro de quem atira em Dilma para acertar no bolsa-família e em outras políticas sociais odiadas pela direita com medo de perder em 2018.

O Brasil atolou-se.

O PT nem tenta dar respostas às denúncias de Delcídio Amaral.

O PMDB aproveita a situação para, num flagrante universal de oportunismo, tomar o poder na mão grande, consagrando a velha política das raposas velhas e das simulações nada sutis.

Eduardo Cunha, Michel Temer e Renan Calheiros não têm legitimidade para julgar pessoas ou governar o Brasil. Representam tudo o que se abomina. O PT perdeu a legitimidade que um dia teve.

O Brasil precisa de nova eleições sem dinheiro de empresas privadas.

Todo o poder emana do povo.

É hora do povo botar a bola no chão e mandar começar de novo.

 

 

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