Poesia: ponto de vista

Poesia: ponto de vista

Visões da pandemia

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Da minha janela, vejo a rua,

As árvores no estacionamento,

Muitos carros em movimento,

E a lenta marcha da lua

Em busca do esquecimento.

 

Tudo é denso e silencioso,

Como num quadro vaporoso,

Pintado no século passado

Por um artista recusado.

 

Mantenho o vidro fechado,

Contemplando um quadrado,

Onde desfila quase o mundo.

 

Passa a garota de minissaia,

O cara num tomara-que-caia,

O homem do cheque sem fundo,

 

A família vinda da praia,

O pai a caminho do lar,

O boêmio no rumo do bar,

 

O ambicioso que trabalha de bedel,

A dama de salto alto para o bordel,

O jovem sarado se achando o tal

 

O morto sendo levado do hospital,

O repórter que ficou sem jornal.

 

Eu também me vejo, meio sem graça,

Um instante refletido na vidraça.

 

Tudo passa, sem opinião de fachada,

Eu olho apenas sombras na calçada.


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