Por que falar tanto de Jango?
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Um jornalista não foge dos fatos. Um historiador vai ao encontro do acontecimentos. Um sociólogo precisa entender o contexto da produção dos fatos e dos acontecimentos. Um escritor como eu precisa juntar tudo isso em busca de um sentido mais profundo. Os restos mortais de Jango foram exumados ontem. Nenhum assunto é tão importante neste momento para o entendimento do Brasil de ontem e indicação do Brasil de amanhã. Dediquei grande parte dos últimos 13 anos da minha vida ao estudo das vidas de Getúlio Vargas, Leonel Brizola e João Goulart. Foi uma maneira, obviamente, de estudar o papel do Rio Grande do Sul na política brasileira do século XX.
Hoje, a partir das 17 horas, começo a dar um fecho a parte deste ciclo histórico com um bate-papo, no Santander Cultural. Às 19 horas, no Pavilhão de Autógrafos, sessão de dedicatórias de meu livro “Jango, a vida e a morte no exílio” (L&PM). Será o momento de falar a partir das informações ainda frescas e das emoções de um acontecimento histórico: a exumação dos restos mortais do único presidente brasileiro a ter morrido no exterior.
Por que tanto Jango? Por que falo tanto dele? Por que me sinto magnetizado, desde à época em que era estudante de História, pelo seu poderoso discurso de 13 de março de 1964, na Central do Brasil: “Não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação. Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas”. E ainda: “É apenas de lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados, à realidade nacional”.
Pode até parecer, em partes, um apelo à reforma política e social em 2013. E mais: “Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento”. Era demais. A elite não podia suportar tanta verdade sendo derramada diretamente nos ouvidos da massa. Jango caiu. Era um homem como tantos outros com hesitações, convicções e estratégias. Isso o tornar mais fascinante.