Professor tem o futuro no coração

Professor tem o futuro no coração

Como será a educação de amanhã?

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       Neste presente conturbado, uma pergunta se impõe: como será a educação do futuro? Totalmente remota? Híbrida (parte a distância e parte presencial) ou, passada a crise sanitária, tudo voltará a ser como antes? O presencial tem a vantagem do contato, da visão panorâmica, dos encontros, dos afetos, das trocas entre estudantes, da proximidade, do convívio, dos olhares, da comunicação não verbal. O remoto economiza tempo de deslocamento, não exige instalações caras e amplia o espaço de captação de alunos. Cada um na sua cidade. A questão, porém, não é só tecnológica. Como será o novo professor? Que habilidades precisará desenvolver para se manter incontornável?

Na literatura de Machado de Assis é recorrente o personagem branco, rico e diplomado que nada faz. Em “Linha reta e linha curva”, um dos “Contos Fluminenses”, Azevedo é um marido feliz: “Deu-lhe a fortuna um emprego suave: não fazer nada. Possui um diploma de bacharel em direito; mas esse diploma nunca lhe serviu; existe guardado no fundo da lata clássica em que o trouxe da faculdade de São Paulo. De quando em quando Azevedo faz uma visita ao diploma, aliás ganho legitimamente, mas é para não o ver mais senão daí a longo tempo. Não é um diploma, é uma relíquia”. Teremos diplomas assim?

O trabalho para os brancos, numa sociedade escravista, não era valorizado. Os diplomas eram obtidos pelo prestígio e para alavancar carreiras políticas, especialmente o diploma de bacharel em direito. Não creio que o futuro nos trará de volta o diploma de distinção social. O professor, com certeza, não será um transmissor de conteúdo de seu repositório de conhecimentos para páginas em branco. Essa concepção caducou faz tempo. Como será esse professor? Especialistas fazem suas apostas: mediador de debates, organizador de temáticas, facilitador de aprendizagens, orientador, iluminador, esclarecedor de dúvidas, provocador de situações de reflexão, semeador de pistas. Tudo, enfim, que cada professor já é atualmente e será em grau maior.

Avançamos para sociedades diferentes nas quais muitas profissões desaparecerão. Outras surgirão. A tecnologia, contudo, não pode tomar o lugar da presença humana naquilo que o humano tem de essencial: a presença afetiva que conta como motor de crescimento intelectual e emocional. Aprender é muito mais do que absorver e memorizar informações. Um dia alguém escreverá uma obra definitiva sobre o papel dos professores na construção da “civilização”. A cada dia eles trabalham arduamente para civilizar essa civilização que se extravia.

      Algo me diz que o professor do futuro apostará na importância da leitura em profundidade, estimulará a reflexão, insistirá no valor da democracia, ensinará tolerância e, acima de tudo, valorizará a diversidade. O que isso significa? Como diria Tancredo Neves, arrumando a redação de um assessor que escrevera “comprometer-nos-emos com uma sociedade mais inclusiva”, “vamos trabalhar por um mundo em que ninguém fique de fora”. O professor tem o futuro no coração.

 

 


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