Profissão sem fé
publicidade
Quando me declarei poeta
O mundo quase veio abaixo.
“É muito ruim”, gritou o bardo
que se confundia com Shakespeare
Por ter poucos cabelos na frente.
“Você fez um poema”, espantou-se
o vate com a sua voz de padre.
“Poesia é complicado”, declarou
o poeta que ninguém nunca lia.
“Como poeta você é bom cronista”,
disse o doutor me passando em revista.
“Não devias ter saído do armário”,
sussurrou um velho de redingote.
Grandiloquente, censurou o poetinha
Num sussurro que quase não ouvi.
Rimas pobres, imagens esquálidas,
Fulminou um dos donos do campinho.
Nada pude fazer por todos eles.
Ninguem foge à sua natureza.
Resolvi me assumir como sou:
Poeta, anarquista e tomador de chá.
Recebi aplausos de nuvens altivas
e um empurrão dos ventos alísios.