Promessas de Ano-Novo
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Tentar, se possível, casar bem uma filha
Rever Santo Anselmo e o argumento ontológico,
Estourar champanha nalgum jardim zoológico.
Ou se mudar, deixando para trás os defeitos,
Na busca sempre renovada de tempos perfeitos,
Para a terra metálica e enigmática de Itabira.
No ano passado, coletei dados para o imposto
Nesta virada, comemorei como um rei deposto,
Bebi, cantei, chorei e dei vivas à república.
Todo fim de ano, eu festejo soberano e faço planos
Prometo comer salada, reler Borges e fazer esteira
Assumo rever meus conceitos e viver de outra maneira
Se possivel viajando de helicóptero e de areoplanos.
Neste ano, fiz o inventário e até a contabilidade
Dividi o passado e os temores pela minha idade
Anotei o saldo dos amores e dívidas de eletricidade.
Cada passagem de ano renova meu interesse pelo tempo
Se fico mais velho, como mais uvas e abraço mais forte
Trato de, cauteloso e sensato, retomar o meu norte
Amparado na escolástica, na química e na ginástica.
Fixei o meu projeto da hora, comprei passagem de ida
Para a praia, a serra, o morro, o sambódromo e o spa.
Prometi-me vastíssimas emoções e nenhuma ideia má,
Com crédito, cartão, beijos e uma filosofia de vida.
Não me afundarei no sofá, não verei mais novela
Andarei com a coluna ereta, sorrirei da janela
Aplaudirei os senadores por todos os seus acertos
Entenderei os empresários por todos os seus apertos.
O futuro, no reveillon, é como um orçamento público:
Aprova-se com pressa para poder lentamente descumpri-lo
A existência é fogo de artíficio. Fi-lo porque qui-lo.
Tenho uma nova gramática e uma velha linguagem
Sou um novo homem novo vibrando de passagem
Comprei um tablet, mandei consertar a CPU
No ultimo dia, ágil, tratei de pagar o IPTU.
Segunda-feira, eu já serei outro homem.