Quatro militantes palomenses

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      Andei muito ocupado. Perdi um pouco o contato com Palomas. Alguns leitores me alertaram para o fato de que a política palomense tem andado incandescente. Fui verificar. De fato, o circo pegou fogo por lá. Foram candidatos a prefeito em Palomas quatro personagens trepidantes: Vlad, o marxista convicto, mas sem provas de que o comunismo resolverá todos os problemas locais; Mikhail, vulgo Maneco, o anarquista desiludido, mas persistente; Max, o defensor do Estado mínimo; e Miro, fã de carteirinha de Sérgio Moro. Palomas é um cadinho cultural. Tem gente de várias origens. Terra de imigração.

Chamaram a atenção os bordões desses candidatos. Vlad defendeu “o socialismo num só povoado” e a teoria do “foco eleitoral”. Segundo ele, o comunismo se irradiará do exemplo palomense para o Uruguai e do Uruguai para o mundo, salvo o Paraná. Já Maneco sustentou que todo “poder corrompe, menos o poder que emana do povo puro”. Avisou que puro é quem vota nele. Max foi objetivo: “Menos é mais. Não vote nos outros. Vote em mim. Abaixo a ideologia”. Miro elegeu-se com uma bandeira simples e bastante aplaudida: “Miro é Moro”. No debate exibido pela Rede Baita Sol, os candidatos engalfinharam-se. O mediador levou um soco no olho por ousar fazer uma frase de efeito: “Que ganhe o menos pior”. O primeiro bloco durou apenas oito horas.

As pesquisas de opinião foram dirigidas por Guma, o oráculo de Palomas, que dispensou a coleta de dados por conhecer todos os eleitores e por não ver necessidade de pesquisa de campo, salvo para melhoria das pastagens. Guma nunca erra. Como se sabe, ele só prevê o previsível, depois do terceiro mate amargo. O segredo, costuma afirmar, está na erva. Prefere as da Banda Oriental. Graças a Guma, pude anunciar na primeira rodada do Brasileirão que o Internacional lamberia o rodapé da tabela. Só não sabia que se estabeleceria um relacionamento tão sério entre o Inter e o rodapé. Guma foi direto ao ponto de acordo com seu método intuitivo-indutivo: “Vencerá quem fizer mais votos e não haverá segundo turno”. Palomas tem 173 eleitores. A margem do Oráculo é de 25 pontos para não ter erro.

O embate entre Vlad e Max foi o mais intenso possível, marcado por ameaças de todos os tipos e por uma guerra de coices. Max citou Milton Friedman, Hayek, Mises e Reinaldo Azevedo, especialmente o último, famoso em consultórios de dentista onde se distrai o paciente medroso com a revista Veja. A ideia é que nada poderá ser pior depois. Vlad recorreu a Marx (Karl e Groucho), Lenin e Tupamaro, o mais famoso comunista de Palomas, que se aposentou para jogar truco e escrever suas memórias, o que fará assim que tiver alguma lembrança.

– Palomas precisa de menos Estado – atacou Max.

– O Estado de Palomas sumiu de mapa – ironizou Vlad.

– Por uma escola sem partido – defendeu Max.

– Só partidos sem escola dizem isso – contra-atacou Max.

– Pela liberdade ao Uber – berrou Max.

– Viva o Ubre – devolveu Vlad.

– Chama o Moro – interrompeu Miro.

– Todos iguais – sentenciou Maneco.

 

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