Quem decide?
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Por quê?
Por ser uma relação.
Uma constante negociação. Comunicar passa necessariamente pelo reconhecimento do outro, dos outros, dos diferentes, dos irredutíveis, dos singulares, dos que não aceitam ser reduzidos à visão de mundo do interlocutor.
O sociólogo francês resumiu assim a questão: “Há duas concepções da comunicação que se opõem. A primeira, amplamente dominante, insiste na performance das tecnologias como progresso da comunicação numa espécie de continuidade que favorece o setor industrial, aquele que mais cresce no mundo. A segunda concepção, minoritária, na qual este livro se inscreve, parte da dimensão antropológica da comunicação e privilegia os processos políticos necessários para evitar que o horizonte da incomunicação entre os indivíduos e as culturas não se torne uma fonte de conflitos. Essas duas concepções não compartilham a mesma visão da relação entre o homem e a tecnologia”.
O que isso diz?
Diz que a tecnologia informa. O homem é que comunica. Ou se comunica. A informação pode ser técnica. A comunicação é política. Visão técnica é o nome que os liberais costumam dar à ideologia econômica que professam. O Brasil vive um momento singular. Há muita informação disponível e pouca informação? Ou há muito signo circulando com pouca informação e quase nenhuma comunicação? Se a comunicação implica a relação, estamos ferrados. Não existe zona de intersecção entre as bolhas que coexistem no espaço virtual ou na realidade física e áspera de cada cidade, bairro, empresa, escola, casa, bares, ruas.
Nunca tivemos tantos meios de comunicação e tão pouca relação, interação e negociação. Parafraseando Heidegger, a essência da comunicação nunca é comunicacional, mas sempre política. Nada mais simplório do que enxergar ideologia apenas na posição dos outros. Nada mais perigoso do que propor unidade sem diversidade. O que fazer com esse outro que me desafia, provoca, choca, critica, ataca e não cede?
Confundir informação com comunicação equivale a misturar meio e fim. Wolton questiona: “Em que consiste a ideologia tecnicista da comunicação? Em transferir para as ferramentas o trabalho de resolver problemas sociais para os quais elas não estão habilitadas. É crer que quanto mais tecnologia houver – amanhã teremos, por exemplo, 6,5 bilhões de internautas –, mais os indivíduos se compreenderão. Significa subordinar o progresso da comunicação humana e social ao progresso das tecnologias”. Temos muita tecnologia e cada vez menos compreensão. Tecnologia abundante não é sinônimo de mais democracia.
Quem decide o que somos e seremos? Em princípio, nós. A ideologia tecnicista sugere que máquinas e fluxos informacionais podem fazer isso por nós. Não funciona. A conta sempre chega. Conversa pesada? Cada época produz o peso que merece ou do qual padece.