Quem ri mais tem algo para comemorar?
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Os dados são de precisão impressionante. Em 1939, os franceses riam 20 minutos por dia. Os nazistas acabaram com a festa. Em 1980, os franceses já riam apenas seis minutos por dia. Hoje, um terço dos franceses ri menos de um minuto por dia. Não é triste? Sérias medidas estão sendo tomadas. O riso é coisa grave. Terapias do riso ganham força. Empresas já pensam em premiar quem rir mais de dez vez por dia no trabalho sem diminuir a produtividade. O riso profissionalizou-se. Antes, as pessoas riam do que elas mesmas faziam ou contavam. Agora, a maioria ri do que é oferecido por profissionais do riso, os humoristas. O riso é uma das mercadorias mais valorizadas da nossa época. O riso vale muito na bolsa dos valores imateriais da humanidade.
A gargalhada está em extinção. Vai desaparecer antes da ararinha azul e dos armadores de cabeça erguida. Um processo de adestramento vem eliminando a gargalhada dos espaços públicos. Europeus raramente soltam uma gargalhada num restaurante. Há quem considere a gargalhada tão grosseira quanto soltar pum. Pessoas elegantes apostam em “felicidade sóbria”, “satisfação frugal” e “slow life”. A gargalhada é vista como uma aceleração descabida. Alguns desses dados podem ser encontrados em “Da leveza”, livro de Gilles Lipovetsky sobre a verdadeira luta de classes do século XXI, o combate mortal entre leves e pesados, leveza e profundidade, lúdico e chatice. Eis o paradoxo: ri-se menos na era da leveza. Paga-se para rir. Rir tem preço. O preço da leveza.
Ri melhor quem ri mais. O Brasil pode explorar a indústria do riso. Europeus, no futuro próximo, pagarão qualquer coisa para rir até chorar. O riso aparentemente espontâneo voltará a ser valorizado, em oposição ao riso industrializado. Rir faz bem à saúde. Rir é o melhor remédio. Foi encontrado um europeu que só ri de economistas. O economista A defende o desenvolvimentismo e o fim da austeridade. O economista B defende o Estado mínimo e controle fiscal rigoroso. O político A segue o economista A. Dá errado. O político B segue o economista B. Dá errado. Ambos garantem que fazem ciência. O grego ria para não chorar. Cansou.
Quer soluções mais sérias.
As sociedade vão se dividir em sociedades que riem muito, pouco ou nada. O riso é o capital do século XXI. Não achou graça?
Procure um terapeuta. Seu caso é grave.