Revitalização do Cais de Palomas

Revitalização do Cais de Palomas

publicidade

Palomas tem um belo cais. Fica na região central. Uma península. Precisa de revitalização. Palomas é esquisita. Vive de costas para o seu rio, o Goiaba. Por causa de uma enchente, foi erguido um muro. Não cabe mais um carro que seja no acesso ao centro. Palomas decidiu que vai revitalizar o seu Cais. Aprovou-se uma lei fixando regras gerais para a revitalização. Foi feita uma licitação. Ganhou a empresa X. Com qual projeto? Não tem projeto. Como não tem? O projeto vem depois da licitação. Como assim? Não foi uma disputa de projetos? Não. A população, portanto, será chamada a opinar sobre obra tão relevante no momento em que o projeto for apresentado? Não.

Segundo o mentor da revitalização do Cais de Palomas, a lei não permite a consulta à população. Em Palomas, toda vez que se quer aprovar um projeto antipopular, elitista ou de privatização de espaço público, os defensores da ideia se autodenominam modernos, progressistas, inovadores e realistas. Os que criticam a ideia são rotulados de reacionários, anacrônicos, esquerdistas nostálgicos e inimigos do progresso. Os defensores usam a palavra sustentabilidade sempre que se trata de entregar área pública para um shopping ou para um estacionamento. Os críticos são vistos como românticos e chatos.

O projeto jamais apresentado para o Cais de Palomas prevê um shopping com duas torres comerciais, uma em cada ponta da área junto ao rio, e um grande estacionamento no meio. Os adversários dessa proposta prefeririam investir em áreas públicas de lazer. Alegam que um estacionamento para 4300 carros vai congestionar definitivamente uma região já sem condição de absorver automóveis. As autoridades balançam os ombros e repetem: “É o que temos para o momento”. Por que não se fazer uma escolha popular em cima da apresentação de projetos? Os defensores da solução sem palpites da população citam os belos exemplos de Puerto Madero e Barcelona para afirmar que estão no caminho certo. Os críticos sugerem que é comparar melancias com alpargatas e citam o caso de Belém do Pará como uma saída adequada.

Palomas deve ser um caso raro no mundo de impedimento da participação da população na escolha de projetos capazes de alterar a alma da cidade. Por lá, chama-se isso de tapar a boca da opinião pública. Arquitetos e cidadãos palomenses veem na estratégia escolhida um processo de privatização que, para acontecer, precisa evitar que a plebe se meta. Tentativa semelhante aconteceu quando se tentou privatizar o Estaleiro de Palomas. Não passou. Os palomenses prometem ir às ruas para ter o direito de decidir sobre o coração do que mais amam. Claro que a Rede Baita Sol já abraçou a ideia e trata a coices todos que a ela se opõem. Se tem privatização, a Rede Baita Sol está dentro. Se tem shopping, a Rede Baita Sol aplaude. Palomas virou a capital dos shopping, esses galpões assépticos horrendos de vidro, concreto e metal com cheiro de pipoca e gordura saturada. Metrô não tem em Palomas.

Tem um shopping para cada 500 habitantes.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895