Rio de Janeiro, Porto Alegre, Buenos Aires

Rio de Janeiro, Porto Alegre, Buenos Aires

Três cidades, três momentos políticos

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A Argentina tem novo presidente.

Adeus ao neoliberalismo predador de Macri.

Estudei antropologia. Aprendi que muitos antropólogos não gostam do exótico, do pitoresco e do folclórico. Eu gosto. Acho que, na verdade, eles não querem que o diferente seja tratado como “bicho” estranho. Faz sentido. Quando viajo, porém, busco o exótico. Por mim, cada lugar ficaria protegido da influência externa. Sei que não é possível nem salutar. Assumo essa contradição. Quando eu ia a São Luís do Maranhão, queria tomar guaraná Jesus. A Coca-Cola comprou a marca. Fiquei de luto. Passei um fim de semana no Rio de Janeiro. Eu adoro o Rio. Gosto do mais pitoresco: feijoada, samba, praia, sol, um jeito carioca de ser.

      Feijoada para mim é um dos melhores e mais sofisticados pratos já inventados. Deve ser comida, de preferência, com samba, ao vivo. Não encontrei um prato desses gourmetizados capaz de chegar aos pés de uma feijoada. Nunca fui ao Japão. Se eu for, terei, por coerência, de querer sushi, que eu acho insuportável. Creio que por implicância com o modismo dominante no Brasil. Sou assim. Viro nacionalista quando sinto cheiro de afetação ou de espirito colonizado. Seco o Flamengo treinado pelo português Jorge Jesus. Um pouco por causa da arrogância flamenguista, time da Globo e da CBF, volta e meia favorecido pelas arbitragens. Outro pouco por detestar o novo estágio da viralatice: o deslumbramento com o futebol europeu. Precisamos de treinador europeu para nos ensinar a jogar!

      Torci pelo Grêmio contra esse novo momento do complexo de vira-lata. O Flamengo está bem por ter ótimos jogadores, não só pelos conhecimentos táticos do Jesus. De resto, não ganhou, em Porto Alegre, na Libertadores, nem do Grêmio nem do Inter. Bem-feito. Em nossas casas, o buraco é mais embaixo. Não tem firula. Esperava que Jesus caísse diante do time do professor Renato Carioca, que faz jogar bonito e aprendeu na prática, uma das legítimas possibilidades de triunfar. Contava com os argentinos, depois, claro, para evitar que os tricolores abocanhassem uma quarta Libertadores. Preferia correr esse risco do que ver o encantamento com Jesus só por ele não ser brasileiro. Está fora de moda dizer que temos qualidades. Vira xenofobia. A melhor coisa que o Jorge Jesus fez mesmo foi dizer que descanso para jogador não existe. Pode, sim, atuar duas vezes por semana. Os neotáticos que o admiram ficaram tontos com essa. A verdade, porém, é que o “Mister” está dando show. Não economiza. Ataca.

Gosto do Rio. Já disse. Como não gostar de uma cidade desenhada pela natureza com capricho? Nós, gaúchos, somos orgulhosos da beleza de nossas mulheres. Temos razão. São lindas. Mas como tem mulher bonita no Rio de Janeiro. Chego a pensar que são mais lindas do que as gaúchas. Talvez sejam gaúchas morando no Rio. Ou é o corpo dourado, o sol de Ipanema, etc. Não sei. Carioca até para dizer bom dia faz tese. Tem introdução, molejo, finta, estilo e algo mais.

Chega até a dar medo.

 

Bairrismo central

 

      Meu único problema com cariocas e paulistas é que, na dúvida, em qualquer assunto ou setor, eles sempre ganham. Precisamos fazer duas ou três vezes mais do que eles para chegar na frente em qualquer disputa. São bairristas até não poder mais. Ninguém é mais bairrista no Brasil do que carioca e paulista. Nem baiano. Baiano, como se diz, não nasce, estreia. Carioca já começa em horário nobre. Paulista, querendo o poder. Cariocas e paulistas acham que nós, gaúchos, sofremos de síndrome de periferia. Sempre querendo mostrar que somos importantes. Cariocas e paulistas sofrem de síndrome de centrismo.

Para eles, com o perdão da caricatura, estar geograficamente no centro significa algum tipo de direito à prioridade.

      Impossível passar três dias no Rio de Janeiro sem ouvir de um carioca um “bá, tchê” ou um “tri-legal”. Há um mito de que falamos assim todo o tempo. A culpa só pode ser da mídia. Em Copa do Mundo, no intervalo dos jogos do Brasil, quando aparece a torcida em Porto Alegre, é sempre em torno de um churrasco, com torcedores de bombacha e um cavalo por perto. Atualmente, com o desempenho nos amistosos, nem o cavalo se entusiasma. Somos o estereótipo que inventamos e do qual não conseguimos nos livrar.

      Se gosto do exótico, os outros também gostam. Nós, gaúchos, de bombacha e dizendo “bá, tchê” e “tri-legal” somos o exótico que interessa aos centristas. Se buscamos o malandro no Rio de Janeiro e o caipira em São Paulo, eles procuram o gaudério quando nos visitam. A indústria do turismo precisa desses personagens tipificados. Podemos cultivar diferenças sem cair em estereótipos? Acho difícil. O francês tem fama de ser mal-humorado e de não falar inglês. Este tem fama de ser fleumático e insosso. O que tem isso? Não sei. Comecei pensando em falar de uma coisa. Terminei falando de outra, de meu amor pelo Rio de Janeiro. Quando eu me aposentar, escolherei entre Porto Alegre, Paris, Palomas e Rio de Janeiro. Ficarei onde for mais fácil viver com minha gorda aposentadoria do INSS.

Buenos Aires tenta renascer politicamente.

Rio de Janeiro sobrevive em meio ao caos.

Porto Alegre esquece seus.  buracos olhando o pôr do sol.

 

 


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